Com o foco nas grandes jazidas, vamos explorar as bacias terrestres, como a margem equatorial do país, na bacia do Solimões
O Brasil chega a 2010 com índices de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 6%, o que acarretará problemas novos, típicos de um país que cresce. No setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis, a situação não será diferente. Novos desafios aparecerão.
A Agência Internacional de Energia refez suas previsões. A demanda de petróleo – que foi de 85,4 milhões de barris diários em 2008 e caiu para 84,6 milhões de barris diários em 2009 – atingirá 86,1 milhões de barris diários no ano entrante. Assim, em âmbito internacional, a previsão para o setor de petróleo é de crescimento.
No âmbito interno, os indicadores de crescimento são muitos, o mais expressivo dos quais é a confirmação de grandes reservatóri! os no “pré-sal”, que podem começar a produzir a prazo curto. Mas, há outros fatores a serem considerados.
O prolongado tempo de baixos índices de desenvolvimento inibiu investimentos, fazendo com que, agora, apareçam “gargalos”. O caminho do petróleo no país, como não poderia deixar de ser, seguiu a trilha das grandes descobertas. Resultou na formação de um polo petrolífero de grande importância na região sudeste, o que é muito positivo, mas as bacias sedimentares terrestres, de 5 milhões de quilômetros quadrados, e precariamente conhecidas, ficaram em plano excessivamente secundário.
A diversidade dos nossos campos potencialmente petrolíferos – que vão do “pré-sal” aos campos marginais – não provocou o surgimento de empreendimentos de variados portes, grandes, médios e pequenos. Médias e pequenas empresas brasileiras, atuando em exploração e produção de petróleo, não são incentivadas e não conseguem se desenvolver no país. As próprias entidades empresariais brasilei! ras não se empenham por ocupar esse nicho.
Há um fator mais geral a ser apreciado. Premidos por uma consciência ambientalista que cresce, desenvolvem-se, em nível internacional, esforços pela substituição dos combustíveis fósseis. Embora tal objetivo, de forma significativa, ainda esteja longe de ser atingido, poderemos estar entrando em outra revolução industrial, que vai criando seus paradigmas tecnológicos próprios, como a tendência a transformar o petróleo apenas em insumo petroquímico.
A idade do petróleo pode, assim, estar se esvaindo, e não por falta de petróleo, como a idade da pedra terminou não por falta de pedra, como nos lembrou um dirigente da Arábia Saudita.
Todos esses fatores precisam ser apreciados na definição dos caminhos atuais do petróleo no Brasil. Reflexões feitas na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) dão algumas indicações.
Será importante o Congresso aprovar o marco regulatório para o “pré-sal”. A li! nha geral do novo marco não foi proposta apenas para permitir maiores rendas, mas para colocar em mãos do Estado, em área de baixo risco e alto potencial, o controle do ritmo da produção, indispensável para a garantia da industrialização do país. Isso resolvido, e no quadro atual em que já cresce no mundo a produção de veículos que não consomem combustível fóssil, ou consomem pouco, não há interesse em protelar a exploração e a produção no “pré-sal”.
O Brasil também não tem razões para colocar-se na contramão do movimento internacional pela melhoria da matriz energética, até porque tem uma das mais limpas do mundo. Ao contrário, programas como o nosso do etanol, deve se expandir. A Petrobras, que já tem plantas de biodiesel, deve passar a ter também de etanol. O programa do biodiesel, que chegou, com três anos de antecedência, à mistura de 5% desse combustível em todo o diesel comercializado no país, deve continuar se consolidando no mercado brasileiro.
Ademais, há! um estrangulamento na longa e complexa cadeia de atividades da indústria do petróleo que passa pelo refino, transporte e distribuição dos derivados. Quando há constrição nessas etapas, anteriores à etapa da venda, o produtor, por falta de alternativa, tende a vender seu produto – o petróleo bruto – in natura.
Os índices de crescimento do consumo de derivados aumentam bem mais rapidamente que os demais índices gerais da economia. Com as providências já tomadas de construção das novas refinarias de São Gonçalo (RJ), Sauípe (PE), São Luís (MA), Pecém (CE) e uma quinta a ser ainda localizada, o “gargalo” do refino estará superado e não faltarão derivados. Mas, adiante, há um ponto crítico.
A infraestrutura de suporte à movimentação, armazenagem e distribuição de derivados, na proporção da demanda que certamente ocorrerá, é insuficiente. A superação desse “gargalo” cria uma janela de oportunidade para investimentos em abastecimento, os mais variados – do caminhão ciste! rna à base de abastecimento – espaço natural para o empresário local.
Em outro sentido, houve época em que se duvidava da existência de petróleo no Brasil. Provamos que ele existe. Era em proporções médias. Descobrimos que são grandes. Mas não podemos aceitar que petróleo só existe em 5% das bacias sedimentares brasileiras, onde já o descobrimos. Mantendo o foco nas grandes jazidas, deveremos deslocar o esforço exploratório, precedido dos estudos da ANP, para as vastas bacias terrestres, onde prioritária atenção deverá merecer a margem equatorial do país, a partir da bacia do Solimões.
No espaço aberto para exploração e produção principalmente nessas bacias terrestres, será importante o surgimento das pequenas, médias e mesmo grandes empresas petroleiras nacionais, para o que será necessária uma atenção especial do poder público, que se traduza em política e medidas específicas.