A perspectiva quanto ao fim do El Niño nos próximos meses deve contribuir tanto para a maior produção de cana-de-açúcar quanto para um aumento na concentração de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) nos canaviais do Centro-Sul do Brasil na safra 2016/17, que começa oficialmente na sexta-feira, 1º.
Em entrevista ao Broadcast Agro Ao Vivo, o analista da INTL FCStone João Paulo Botelho avaliou que as condições climáticas tendem a ser favoráveis justamente no pico da temporada, entre julho e setembro. “O clima mais seco deve aumentar o nível de ATR. Dessa forma, as usinas vão produzir mais etanol e mais açúcar”, comentou.
Caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, o El Niño provoca mais chuvas em áreas produtoras do Centro-Sul brasileiro, exatamente o que ocorreu no ano passado. Para 2016, porém, a perspectiva é de que o fenômeno se enfraqueça, ajudando a safra de cana local.
Nas projeções da INTL FCStone, apresentadas por Botelho, o Centro-Sul processará 619 milhões de toneladas na temporada, acima das 605 milhões de toneladas do ciclo passado. A fabricação de açúcar deve ficar em 34 milhões de toneladas, a de etanol hidratado em 17,6 bilhões de litros e a anidro em 10,4 bilhões de litros.
Conforme o analista, o déficit de produção esperado para o ciclo global que se encerra em 30 de setembro, “entre 7 milhões e 8 milhões de toneladas”, deverá ser o principal fator de sustentação para os contratos futuros de açúcar negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). “Essa falta de produto foi causada pelo (impacto do) El Niño em produtores asiáticos”, explicou.
Entre outros fatores, ele também citou “o cenário macroeconômico internacional turbulento, a perspectiva de desaceleração da China e o câmbio no Brasil”.
Quanto ao etanol, Botelho prevê demanda firme também neste ano. “As usinas vão ter grande disponibilidade de matéria-prima. Devemos produzir um volume ainda maior de etanol neste ano, o que vai deprimir os preços e ajudar com a demanda”, disse.
Dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) mostram que o consumo de hidratado em 2015 chegou a atingir níveis recordes, superando 1,6 bilhão de litros em alguns meses.
Cuba
O analista da INTL FCStone comentou ainda que a reaproximação com os Estados Unidos tende a beneficiar o setor sucroenergético de Cuba, mas no longo prazo.
“Acho que vai levar algum tempo, mas no longo prazo isso pode fazer com que as exportações cubanas entrem nos Estados Unidos, ajudando o setor do país, que está combalido há 20 anos”, disse, lembrando que Cuba chegou a figurar como maior exportador mundial de açúcar no fim dos anos 1980 e início dos 1990.
“Além disso, é provável que grupos internacionais, possivelmente até brasileiros, se interessem a construir ou administrar usinas em Cuba”, concluiu.
Fonte: (Estadão)