Mercado

Seca reduzirá 6,3% da safra de cana em São Paulo

A estiagem de 2007 no interior de São Paulo já comprometeu 6,3% da safra da cana, que começará em abril. A produção de açúcar e álcool só não será menor por causa da inauguração de pelo menos 13 usinas, que moerão 12 milhões de toneladas em sua primeira safra. A perda de receita em todo o Estado pode chegar a R$ 700 milhões, considerando-se o valor de R$ 36,40 a tonelada de cana, projetado para março.

Ainda não é possível calcular a redução da receita com o que deixará de ser produzido de açúcar e álcool, porque só o clima definirá o teor de sacarose dos canaviais. Também é preciso avaliar as exigências dos mercados interno e externo, que regem a quantidade de cana a ser destinada a cada produto. No ano passado, a safra paulista fechou em 250 milhões de toneladas.

Para este ano, a quebra, incluída a das usinas novas e a de seus fornecedores, é estimada em 18,34 milhões de toneladas. A avaliação dos danos às plantações é dos cientistas do Centro de Pesquisa de Cana do Instituto Agronômico (IAC), em Ribeirão Preto (SP). As conseqüências estendem-se pelas regiões de Araçatuba e Triângulo Mineiro.

Pouca chuva

Os pesquisadores examinam as variedades mais cultivadas e atestam: um canavial plantado em fevereiro de 2007, que hoje deveria dar 45 toneladas por hectare (para chegar a 90, na hora do corte), está com 27 toneladas/hectare.

Na região de Ribeirão Preto, em junho de 2007 deveria chover 27 milímetros e choveu 1,7 milímetro. Em julho, a expectativa era de 21 milímetros de chuva e houve 65 milímetros. Em agosto, em vez dos 20 milímetros aguardados, não choveu.

Em setembro, esperavam-se 52 milímetros e houve 3 milímetros; em outubro, choveu 50 milímetros, ante os 125 milímetros aguardados; em novembro, 125 milímetros ante 170 milímetros e, no mês passado, 175 milímetros, para a expectativa de 270 milímetros. “É uma perda impossível de recuperar”, diz o pesquisador do IAC Maximiliano Salles Scarpari.

“Além da seca de 2007, neste verão não tem chovido quando deveria”, diz o agrônomo Sérgio Selegati, da Pedra Agroindustrial, com usinas em Serrana, Ibirá, Buritizal e Nova Independência.

Em Mococa, região de Campinas, os produtores dizem que o quadro ainda não preocupa, mas se as chuvas não se normalizarem, chegará a hora de contar as perdas. Por estar mais perto da Serra da Mantiqueira, as lavouras sofrem menos com a estiagem, apesar de receberem quase um terço da água esperada para dezembro e janeiro, diz o diretor da Usina Ipiranga, Luiz Cunali Filho.

No Triângulo

A situação no Triângulo Mineiro está pior. Ali choveu 20% menos do que a média de 30 dias entre 15 de dezembro e 15 de janeiro. E houve 20 dias seguidos sem chuva – embora a cana sinta menos ali, porque o solo do cerrado é mais fresco, a altitude é maior e a lâmina d´água está mais próxima do solo.

O produtor José Mário Paro, 41 safras na vida, entre o Triângulo Mineiro e a região de São José do Rio Preto (SP), dá um conselho para os iniciantes: “O mercado ainda não se deu conta do tamanho dessa quebra, mas ela influirá no preço da cana. Por isso, acho arriscado dizer por quanto se venderá cana na abertura da safra”.

Para o consultor e empresário do setor sucroalcooleiro Maurílio Biagi Filho, para saber se a seca persistirá em 2008, “como parece”, o sinal mais visível está nas barragens das hidrelétricas: “se elas não se recuperarem, as perdas nos canaviais serão maiores”.

Além da seca, o presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo, Manoel Ortolan, enumera outros prejuízos aos produtores: a cana, que deverá ser vendida por R$ 36,40 a tonelada, tem custo de produção de R$ 45/tonelada; o preço do adubo subiu 15%; o salário dos trabalhadores será reajustado logo no começo da safra; a baixa cotação do dólar não ajuda, porque a do açúcar está muito baixa e o preço da cana varia de acordo com o do açúcar e do álcool; o preço dos insumos não diminui com a queda do dólar, porque o consumo está elevado e o produtor não recebe nada pelos subprodutos da cana que fornece. (Moacyr Castro)