Último dia chuvoso na região foi em 8 de abril; estiagem já compromete a produtividade. Não chove há quase 60 dias nas regiões produtoras de cana do Centro-Sul. Com isso, a previsão de uma safra 11,3% maior este ano do que no período anterior pode não se confirmar. A colheita estimada era de 375 milhões de toneladas este ano. Com déficit de água, a cana poderá não alcançar o volume esperado, comprometendo a produtividade. Se não crescer tanto quanto o esperado, pelo menos haverá a compensação de o vegetal proporcionar índice maior de sacarose, o que resulta num rendimento maior do que o previsto. Ao deixar de se desenvolver da forma esperada, a cana ao menos poupa energia, o que favorece a produção de açúcar e de álcool.
Por essa razão, não é possível avaliar o eventual prejuízo que a estiagem poderá provocar nas lavouras de cana, nem mesmo se haverá perda, ao contrário do que ocorre nas lavouras de milho e de trigo, onde o prejuízo já é considerado certo, especialmente no Paraná e Mato Grosso do Sul.
Os últimos dias chuvosos na região Centro-Sul foram em 7 e 8 de abril, segundo a Somar Meteorologia. Depois disso, apenas chuvisqueiros rápidos. Em todo o mês de maio não choveu mais do que 4 milímetros. Atenuante para esse clima adverso são as temperaturas amenas, que retardam a evaporação, o que poderia agravar as conseqüências da seca, informa o meteorologista Paulo Etchitchury, da Somar.
Para o diretor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Edson Ustulin, as lavouras ameaçadas são aquelas que ainda estão em fase de desenvolvimento porque foram cortadas no fim da safra passada, em setembro ou outubro. Por falta de água essas plantas não conseguem se desenvolver e o internódio (entre os nós) dos caules tendem a ser mal formados, resultando em menos caldo para ser transformado em açúcar ou álcool. “É ainda muito cedo para avaliar os prejuízos”, declarou Ustolin.
A previsão feita pela União da Indústria Canavieira de São Paulo (Unica) era de que a região Centro-Sul produziria 25,5 milhões de toneladas de açúcar este ano, 15,8% mais que no ano anterior, e 15,6 bilhões de litros de álcool total, 8,8% mais que na safra 2005/06.
Não há previsão de chuvas intensas até o início de setembro, segundo explica o meteorologista da Somar. Embora existam sinais de que o fenômeno meteorológico La Niña esteja no seu estágio final, isso não deverá alterar as tendências climáticas da região. Apenas os estados do Sul, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e eventualmente o Paraná, deverão se beneficiar dessa previsão mais otimista. “Para os demais, a situação permanecerá inalterada”, disse Etchitchury. “A maior incidência de chuvas só deverá ocorrer mesmo na Primavera”.
kicker: Fim do fenômeno La Ninã trará chuvas para o Sul do Brasil, mas não deve refrescar situação dos canaviais da região Centro-Sul