Os longos períodos de estiagem no Centro-Sul do Brasil entre fevereiro e março e desde o começo de abril seguem ameaçando a produção de cana-de-açúcar na região, maior produtora mundial de açúcar e de álcool. De acordo com estimativa da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, as previsões feitas até agora, de que haverá um aumento de 6% a 8% na oferta de açúcares totais e um processamento entre 340 e 355 milhões de toneladas de cana na safra 2005/2006, já correm o risco de serem revistas.
“A realidade climática de abril já é diferente, semelhante à de fevereiro e março. As usinas já estimam uma quebra de 4% na região de Ribeirão Preto e até mais em outras aéreas nas quais o processamento já começou”, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool.
Ele lembrou que já houve uma perda no rendimento da cana ocorrido na seca entre fevereiro e março. Para complicar, a demanda de açúcar e de álcool no mercado interno deve crescer 6% neste ano de acordo com a previsão do setor sucroalcooleiro e o único sinal de uma redução na demanda externa vem dos Estados Unidos, que pode reduzir a compra do etano brasileiro.
“O cenário se completa com a queda nos preços de açúcar e de álcool, que estão estáveis, no começo da safra. Mas é preciso lembrar de que a demanda será a mesma na entressafra, a partir de dezembro. Em resumo, será um teste para a tão falada capacidade de união do setor sucroalcooleiro”, disse Carvalho.
Já a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), que previa anunciar sua primeira estimativa de safra na próxima segunda-feira (18), informou hoje que a divulgação só irá ocorrer na última semana deste mês, entre os dias 25 e 29. No último dia 6, o presidente da entidade, Eduardo Pereira de Carvalho, informou que ainda faltavam alguns dados climáticos para que a previsão fosse fechada.
O empresário e presidente da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner, afirmou hoje que a safra de cana no Centro-Sul do Brasil não chegará a 350 milhões de toneladas, ante algumas previsões que apontavam um processamento próximo a 360 milhões de toneladas. Zancaner disse que nas duas unidades do Grupo Unialco, do qual também é presidente, há uma queda de 2% na umidade da cana processada desde o começo de abril, ante o mesmo período do ano passado, graças à estiagem.
“E no ano passado, nessa mesma época, o clima ainda estava muito seco”, explicou Zancaner. “A tendência é de uma redução ainda maior, de cerca de 5% na oferta de açúcar”, completou. Com a cana mais seca, as usinas conseguem produzir mais facilmente açúcar e álcool e o rendimento industrial está cerca de 2% maior do que no ano passado nas unidades do Grupo Unialco, em Guararapes (SP) e Aparecida do Taboado (MS).