Após o anúncio de acordo com a Louis Dreyfus Commodities (LDC), a Santelisa Vale corre contra o tempo para em até 60 dias concluir a renegociação com seus credores dos cerca de R$ 2,8 bilhões de dívidas. A condição deve ser atendida, sob pena de não ser concluída a incorporação da companhia sucroalcooleira pela multinacional francesa. A empresa não comenta a que ritmo segue a negociação com os bancos. Mas, alguns fornecedores de cana estão tentando impor resistência à proposta feita na última semana. A Santelisa quer parcelar em cinco vezes o que deve da safra passada (2008/09), com pagamento da primeira parcela em julho e as restantes, a cada dois meses. A proposta posterga para março de 2010 a quitação da última parcela.
“Os valores pendentes de fornecimento de cana-de-açúcar referentes à safra 2008/09 serão quitados (…) em cinco p! arcelas iguais e sucessivas, com vencimentos todo dia 25dos meses de julho, setembro e novembro de 2009, e janeiro e março de 2010”, diz o termo de recuperação enviado aos fornecedores. “Eles estão fazendo terrorismo com os fornecedores. Ou aceitamos o acordo, ou não vai ter moagem”, ataca um fornecedor que preferiu não se identificar.
A Santelisa informou, por meio de sua assessoria, que a proposta feita aos fornecedores foi elaborada com base na capacidade de geração de caixa da companhia. Essa condição permite à empresa pagar os atrasados junto com a safra atual, independentemente de terceiros, ou seja, da entrada efetiva da LDC no negócio. A assessoria da Santelisa informou que até o momento já conseguiu adesão de plantadores suficientes para garantir o fornecimento de 60% da cana-de-açúcar que deve ser moída.
A previsão para esta safra é de moer 1 milhão de toneladas a menos, ou seja, 16,5 milhões de toneladas, sendo dois terços direcionados para açúcar e um terço! para álcool. Apesar de afirmar que essa redução não tem relação com a crise, a empresa assume que a medida visa diminuir custos. Planeja reduzir em 20% o raio de coleta da cana para 27,5 quilômetros.
“A empresa reconhece que as condições não agradam muitos fornecedores. Mas é a possível para quitar ao mesmo tempo débitos passados e recentes. Em entrando novo sócio, está previsto fazer uma antecipação prioritária para os fornecedores”, informou a Santelisa. “A partir do acordo com credores é que será definido o preço final da companhia. As famílias controladoras querem reduzir a dívida para terem melhores condições no acordo final”, indigna-se o fornecedor. “Temos duas revoltas. A primeira de os Biagi (família que controla a Santelisa) terem feito dívidas maiores que a capacidade de pagamento. A segunda se estende a LDC que quer entrar no negócio sem regularizar pagamento e jogando a responsabilidade sobre os Biagi”, diz a fonte.
Ao que tudo indica, a situação dos fornecedores tende a ficar mais difícil. Até então, recebiam acima do calculado pelo Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana). Agora os fornecedores recebem propostas de baixarem esse valor aos patamares do Consecana. “A Santelisa está propondo o valor do conselho e, como é a maior da região, está pressiona o mercado para baixo”, afirma o fornecedor.
A Associação dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo (Canaoeste), da região de Sertãozinho, foi procurada, mas o presidente Manoel Ortolan, estava em viagem.