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Salatiel Soares Correia A bioeletricidade e os créditos de carbono

A matriz energética brasileira se diferencia das demais matrizes energéticas do planeta por uma particularidade que faz a diferença no contexto do desenvolvimento sustentável: 46% de nossas fontes geradoras de energia são compostas pelas energias renováveis. No resto do mundo, essa cifra não passa de 12%.

A predominância das chamadas energias verdes se deve a fatores inerentes à nossa matriz energética, vez que nesta sobressai tanto a elevada participação da hidroeletricidade (energia dos rios) quanto a utilização do álcool como combustível. Só para se ter uma ideia da imensa demanda pelos produtos da cana-de-açúcar, as projeções mais conservadoras apontam para a seguinte realidade futura: até 2013, o País estará produzindo cerca de 31 bilhões de litros de álcool, sendo que 80% deste total se destinará o ao mercado interno. No tocante à produção de açúcar, esta poderá chegar no ! mesmo ano a cerca de 40 milhões de toneladas.

É nesse contexto que vem crescendo consideravelmente uma fonte energética que tem um imenso potencial a ser explorado. Trata-se da bioeletricidade sucroalcooleira (energia elétrica que se origina nos produtos da cana-de-açúcar).

A competitividade dessa fonte pode ser atribuída ao uso de resíduos, como o bagaço de cana-de-açúcar, originado da produção do álcool e açúcar como combustível.

De acordo com estudos do professor Nivalde de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, “uma tonelada de cana-de-açúcar possui energia primária equivalente à energia contida em 1,2 barris de petróleo. Deste potencial energético, 2/3 estão contidos no bagaço e na palha, enquanto a sacarose a partir da qual se produz o álcool possui apenas 1/3 da energia da cana”.

O uso da bioeletricidade certamente aumentará a confiabilidade do sistema elétrico brasileiro pelo ! fato do período de safra da cana-de-açúcar – de maio a novembro – coincidir com o período seco da região onde está localizada a grande maioria dos reservatórios brasileiros: Sudeste.

Um outro fato que certamente contribuirá para a viabilização econômica da bioeletricidade são os chamados créditos de carbono. Estes nada mais são do que um incentivo dado pelo uso de fontes que não contribuem para elevação do chamado “efeito estufa”. Desse modo, aqueles consumidores que fizerem uso das energias verdes contribuirão para o desenvolvimento sustentável, tendo assim créditos de carbono a receber. Por outro lado, os consumidores que insistirem no uso de energias não renováveis que elevam o esquentamento da terra – a exemplo daquelas originadas dos combustíveis fósseis – terão créditos de carbono a pagar.

De acordo com os cálculos do professor Nivalde de Castro, os consumidores das energias verdes poderão, com a comercialização dos créditos de carbono, receber uma receita de até! 10% do preço do megawatt-hora (unidade de consumo de eletricidade) pago pelo setor sucroalcoleiro – e isso muito ajudará na viabilização das usinas sucroalcooleiras.

Em Goiás, quem certamente primeiro entendeu essa possibilidade de gerar bioeletricidade,, não só para atender a suas necessidades mais para ganhar dinheiro com ela através da comercialização dos créditos de carbono, foi o pessoal da Usina Jales Machado, de Goianésia. Espero que essa mentalidade empreendedora sirva de exemplo para quem trabalha entre nós com esse lucrativo negócio que traz o desenvolvimento, gera empregos e agride menos o meio ambiente.

Salatiel Soares Correia é engenheiro, administrador de empresas, mestre em Planejamento Energético e autor, entre outros, do livro A energia na região do agronegócio