O setor sucroalcooleiro está em busca da produtividade perdida. A União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) aposta nas condições climáticas previstas para os próximos meses e espera recuperar os níveis de produção pré-2011, ano em que se obteve a pior safra desde a segunda metade da década de 80.
“Essa safra foi um desastre absoluto em termos de produtividade”, lamentou o gerente-geral de Produtos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Luiz Antonio Dias Paes. “Sucateou-se a indústria, sucateou-se também o canavial”, afirmou, citando fatores como geadas intensas, mecanização precária, pragas e expansão inadequada.
A produtividade do setor caiu 18% neste ano, em relação à média histórica, com menos de 70 toneladas de cana sendo colhidas por hectare – o resultado mais baixo dos últimos 24 anos. A queda mais acentuada foi em outubro, quando um hectare rendia volume inferior a 60 toneladas. Todos os estados produtores sofreram baixas, com exceção do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
As adversidades climáticas, como uma intensa geada e cinco meses de pouca chuva (abaixo de 50 mm), foram tomadas pelos representantes da Unica como o principal motivo para a baixa produtividade. Além disso, com o baixo nível de renovação este ano, as plantações envelheceram – 52% delas são consideradas “velhas” pela entidade.
“Um ano de envelhecimento gera perda de cerca de dez toneladas de cana por hectare”, constatou Dias Paes.
Reflexos da crise de 2008, que fez diminuir o trato dado sobre as plantações, ainda são sentidos na produção. E a colheita mecanizada, vista como vetor de perdas na colheita, cresceu de 34% para 80% do setor nos últimos cinco anos. No mesmo período, a cana-de-açúcar, que custava menos de R$ 40 por tonelada em 2005, encareceu 38%, ultrapassando o valor de R$ 55.
La Niña
Em relação a 2012, contudo, o setor mantém certo otimismo e acredita que as águas e os ventos vão cooperar com a guinada prevista para o desenvolvimento da cana nas terras do País. Será um ano de La Niña, fenômeno que esfria o Oceano Pacífico e intensifica a pressão atmosférica em alguma parte do globo terrestre. No Brasil, resulta em precipitações que se prolongam até meados de maio, favorecendo o plantio.
De qualquer forma, o impacto negativo do clima já deu sinais de enfraquecimento. A partir de outubro, nas análises da Unica, após cinco meses de chuvas escassas, as águas voltaram a níveis de verão, suavizando (para cima) os resultados da produção nos últimos três meses do ano.
“As condições climáticas já melhoraram”, afirmou o presidente da Unica, Marcos Jank, cuja preocupação vai além do clima. “O que temos de fazer é melhorar significativamente a nossa eficiência”, disse ele.
Carga pesada
“No mundo inteiro, os países estão criando pacotes tributários especiais para os biocombustíveis. Ou até mesmo dando incentivos para sua produção. O Brasil está indo na direção contrária”, disse o representante, que defende uma reforma tributária para o setor como forma de incentivo ao uso da biomassa.
“O único estado que dá algum tipo de incentivo para o etanol é São Paulo, com a redução do ICMS”, disse o representante. O consumo de álcool combustível nas cidades paulistas é, portanto, 60% maior do que a média brasileira – como Jank argumentou.
Especulações
Agentes de mercado especulam que a próxima safra de cana-de-açúcar no Brasil, esperada para 2012, terá entre 460 e 540 milhões de toneladas. “É jogo de mercado. São apostas”, afirmou o presidente da Unica.
Renê Gardimbruno cirillo