Para CNA, cenário mundial deve ser encarado como oportunidade
A pesar do avanço do plantio de cana-de-açúcar para atender à expectativa de grande demanda por biocombustíveis, a produção agrícola do país, como um todo, vem crescendo significativamente.
Para a safra 2007/2008, a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de produzir 140,8 milhões de toneladas, um recorde. Essa produção é 6,8% superior à da safra passada. A produtividade também aumentou. Passou de 2,1 quilos por hectare, há dez anos, para 3 quilos nesta safra. A área total plantada chegará a 46,7 milhões de hectares.
Os números são importantes diante da crise mundial de alimentos. Apesar de não haver risco de desabastecimento, num primeiro momento o brasileiro terá de pagar mais caro, já que as commodities são cotadas em preços internacionais.
– Mas, com certeza, não sofreremos uma alta tão grande como os demais países – diz o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Cotta.
Mesmo com o aumento da produção, os ministérios da Fazenda, Agricultura e Desenvolvimento Agrário estão estudando uma série de medidas para incentivar um crescimento ainda maior da safra de alimentos – como a melhoria do sistema de garantia de preços para a produção agrícola e ampliação do volume de crédito–, que já devem ser anunciadas nas próximas semanas.
Na verdade, não há falta de produtos no mundo, mas uma valorização decorrente do aumento do consumo mundial, em especial de chineses e indianos, e uma forte especulação. Para Cotta, “temos de encarar esse cenário como uma grande oportunidade. Ainda podemos aumentar a nossa produção e as exportações. Mas precisamos de tempo para nos adaptar e, principalmente, de melhorias na infra-estrutura do país para que possamos escoar”.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, solicitou que Brasil e Egito não restrinjam exportações de alimentos, o que provocaria a escalada de preços.
José Maranhão (PMDB-PB) afirmou que a tecnologia tornou possível aumentar a produção de alimentos e de biocombustíveis simultaneamente.
Neuto de Conto (PMDB-SC), que preside a Comissão de Agricultura (CRA), lembrou que o Brasil é soberano e contribui muito com o abastecimento mundial. “Estamos sendo criticados pelo plantio da cana, mas ela só ocupa 2,8% dos 276 milhões de hectares cultiváveis no país”, argumentou.
Valter Pereira (PMDB-MS) criticou os produtores agrícolas dos países ricos – que subsidiam sua agricultura – e as nações produtoras de petróleo, que, segundo ele, temem a alternativa de energia limpa do etanol e do biodiesel.