A queda dos subsídios ao açúcar vem sendo apontada como uma grande vitória da economia brasileira dentro das batalhas travadas na Organização Mundial do Comércio (OMC). Vitória indiscutível para o setor agrícola brasileiro – principalmente os usineiros de cana-de-açúcar – e sinal de alerta para a indústria nacional que utiliza o produto como matéria-prima.

Sob a liderança do Brasil, maior produtor mundial de açúcar, a pressão pelo fim das barreiras internacionais que regulam o preço do produto – sobretudo a proteção concedida pela União Européia a seus agricultores – começa a virar realidade. Fato que cria uma perspectiva de alta rentabilidade para o açúcar brasileiro – o mais barato do mundo -, que terá sua competitividade potencializada neste novo cenário, com a abertura de um mercado de US$ 1,2 bilhão.

Contudo, uma análise crítica das conseqüências do fim dos subsídios,

coloca em questão, até que ponto este movimento é benéfico para a economia brasileira como um todo. Se de um lado, os produtores nacionais de açúcar terão motivos para comemorar lucros recordes de exportação, por outro lado, com o preço do açúcar equilibrado no cenário mundial, o poder de exportação dos produtos industrializados derivados do açúcar – como balas, doces, refrigerantes e achocolatados – produzidos no Brasil, deverá cair drasticamente.

Muito se fala da importância de incentivar a exportação de produtos

industrializados no Brasil, devido ao seu maior valor comercial e,

principalmente, pela geração de empregos diretos e indiretos que fomenta.

Com a queda dos subsídios, o Brasil parece celebrar a perpetuação da

“síndrome de país colonizado”, onde se exporta matéria-prima que não gera mão-de-obra significativa ao país, e se importa produtos industrializados de alto valor.

Neste contexto, de nada servem os recordes da balança comercial de

exportações, baseadas no fantástico desempenho agrícola nacional. Em 2004, no Brasil, o açúcar gerou uma receita de US$ 1,02 bilhão, enquanto o setor de chocolates, balas, confeitos e goma de mascar representaram US$ 288 milhões, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Balas e Derivados (ABICAB). Números que revelam uma disparidade nociva para o crescimento sócio-econômico do país. Para o consumidor final, o fim dos subsídios irá significar o aumento do preço final do açúcar no mercado. Para o setor industrial brasileiro, a equiparação do preço deve tirar a competitividade dos produtos nacionais que dependem do açúcar como matéria-prima e ainda enfrentam as dificuldades logísticas para chegar aos principais mercados. Na pior das conjunturas, a medida pode incentivar o empresário a fechar sua fabrica no Brasil e abrir uma nova fábrica, mais rentável, na Europa.

Para uma indústria como a Bretzke, por exemplo, que produz alimentos como achocolatados, confeitos, misturas para bolo, refrescos em pó e gelatinas, o açúcar representa 17% das compras da empresa. A alta do preço deste item naturalmente terá que ser repassada ao preço final de seus produtos, que, por sua vez, alimentam uma cadeia de empregos em outras áreas industriais como plástico, celulose, embalagens e transporte, e, portanto, carregam um alto valor agregado. Uma possível medida para minimizar estes efeitos nocivos seria o governo

brasileiro taxar o valor do açúcar como matéria-prima para exportação, incentivando assim, o investimento em produtos de maior valor agregado para o comércio internacional. Assim como os governos europeus protegeram durante décadas os seus agricultores, o Brasil deve tratar de proteger a sua indústria.