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Rússia quer ter autossuficiência em açúcar mas há obstáculos

A Rússia está se movendo em direção da autossuficiência em açúcar, mas vários obstáculos irão impedir que o país seja um grande exportador.

A Rússia, que já foi o maior importador de açúcar bruto do mundo no início dos anos 2000, quando costumava comprar cerca de 4 milhões de t por ano, perdeu posições no ranking como importador à medida que os preços mais altos encorajaram o investimento doméstico.

O país parece pronto para produzir quase todo o volume para cobrir suas necessidades de consumo em 2011/12.

Analistas acredicam que o deslocamento da Rússia para a autossuficiência está sujeito ao clima favorável e à situação econômica, incluindo o regime estável de tarifas de importação, que facilitaria o investimento em nova capacidade produtiva.

Uma autoridade sênior do governo disse na quinta-feira que o país está avaliando uma proposta de não reduzir a tarifa de importação sobre o açúcar bruto no próximo ano, uma prática normalmente aplicada para fornecer matéria-prima à refinarias entre as temporadas de processamento de beterraba.

“Se houver vontade política e clima favorável nos próximos dois anos, poderemos parar facilmente as importações de açúcar bruto”, disse Yevgeni Ivanov, analista do mercado do açúcar do Instituto Russo de Estudos em Mercados Agrícolas (IKAR, na sigla em inglês), baseado em Moscou.

O vice-primeiro-ministro Viktor Zubkov disse na semana passada que a Rússia não deveria importar mais açúcar bruto este ano, já que espera uma produção doméstica de beterra recorde.

Após uma severa seca no ano passado, que atrasou o processo da Rússia em direção à autossuficiência, a produção recorde de açúcar este ano deve ficar ligeiramente abaixo do consumo doméstico de 5,6 milhões de t, disseram analistas.

Sergey Gudoshnikov, economista sênior da Organização Internacional do Açúcar (OIA), estimou os estoques de açúcar do país em 1,7 milhão de t em 1º de outubro, o que descreveu como sendo um nível normal.

A Rússia espera, oficialmente, uma safra doméstica de 5 milhões de t este ano, apesar de analistas esperarem que seja menor do que isso, uma vez que geadas podem levar a grandes perdas de beterraba armazenadas ao ar livre.

Infraestrutura

Analistas disseram que a Rússia não deve emergir como um grande exportador nos próximos anos, pois possui limitada infraestrutura de exportação e capacidade produtiva, e precisaria se esforçar para competir com a entrega de açúcar por via marítma.

Traders russos completaram um teste de embarque de 160 t de açúcar refinado de beterraba doméstico pelo mar, o primeiro em pelo menos uma década, disse a União dos Produtores de Açúcar da Rússia, na semana passada.

Produtores de açúcar mais eficientes, como o Brasil, cujos benefícios de uma melhor economia de escala e custos mais baixos de produção, devem minar a oferta de açúcar refinado russo pelo mar, disseram analistas.

À medida em que a Rússia impulsiona sua produção doméstica, fica mais provável aumentar as exportações de açúcar por terra, para seus vizinhos da Ásia Central, por conta das vantagens de frete.

“A exportação de açúcar na atual temporada pode atingir 250 mil t, ou até mais”, disse Ivanov, do IKAR.

No entanto, períodos prolongados de clima adverso na Rússia nos próximos anos podem forçar o país a buscar novamente açúcar bruto no mercado internacional, disseram analistas.

“Eu não acho que a Rússia se tornará um exportador em breve”, disse Gudoshikov, da OIA, estimando que o país seria 90% autossuficiente em açúcar em 2011/12 (outubro/setembro).

Investimentos

Os altos preços domésticos do açúcar na Rússia, junto com tarifas de importação, foram um incentivo à indústria doméstica para investir em capacidade produtiva.

“Alguns investimentos estão ocorrendo na Rússia para aumentar a capacidade e melhorar a tecnologia, e isso pode ajudar a sustentar o nível de produção”, disse Stefan Uhlenbrock, analista da F.O. Licht.

Os investimentos necessários incluem a introdução de novas tecnologias de armazenamento de beterraba, incluindo depósitos especialmente ventilados nos quais a beterraba pode ser naturalmente congelada durante o inverno e ficar congelada quando o tempo ficar mais quente.

A temporada de colheita do açúcar de beterraba russo começa em agosto e termina em fevereiro ou março. As beterrabas são armazenadas ao ar livre, e repetidos descongelamentos e geadas no final do inverno podem causar grandes perdas.

Um esboço de um programa estatal para o desenvolvimento agrícola para 2013-2020, preparado pelo Ministério da Agricultura, no valor de 6,8 trilhões de rublos (US$ 221,4 bilhões), deve reduzir drasticamente a dependência do açúcar bruto importado. Porém, ele implica que o país continue com algumas importações.

Pelo programa, o país deve produzir 5,4 milhões de t de açúcar de beterraba em 2020, cobrindo 91,2% de suas necessidades.

Analistas disseram que o principal significado da retirada da Rússia como líder importador é o impacto em seu principal fornecedor, o Brasil, maior produtor e exportador mundial de açúcar.

“Provavelmente haverá menor pressão sobre a oferta brasileira no segundo trimestre do ano”, disse Gudoshnikov, referindo-se ao período quando o açúcar brasileiro é tradicionalmente embarcado para a Rússia.

A forte demanda asiática pelo açúcar brasileiro é esperada para compensar a queda das importações russas.