O Brasil pode perder a oportunidade de liderar o mercado mundial de biocombustíveis, pois os setores privado e governamental não têm estratégia para a produção e comercialização do etanol. Essa opinião é do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que fez a palestra de abertura da 29ª Reunião Anual – Encontros Fermentec, iniciada na terça-feira, 3 de junho e encerrada nesta quinta-feira, 5 de junho, em São Pedro, SP. Ele alertou que o setor está abrindo novas unidades e plantando cana, sem saber qual é a quantidade de álcool que deve produzir e comercializar, pois não há ainda mercado para o etanol no mundo.
“Sobrou cana no ano passado e o preço caiu 32%. Existe uma incompetência pública e privada para tratar de diversos aspectos que envolvem o setor. Onze ministérios respondem por questões relacionadas à atividade, com pessoas competentes que não conversam, uma com a outra, sobre esses temas”, criticou. Roberto Rodrigues – que é coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) – afirmou que muitas perguntas relacionadas à expansão da agroindústria canavieira estão ainda sem respostas. “Quem vai cuidar da produção, mercado, estoque, logística, recursos humanos, alcoolquímica?, indagou.
Com o tema geral “Desenvolvendo Tecnologias – Consciência Ambiental”, o evento – promovido pela empresa Fermentec, de Piracicaba, SP – abordou diversos assuntos relacionados aos processos de produção de cana e açúcar e à fermentação alcoólica, priorizando a sustentabilidade ambiental, a qualidade da matéria-prima e do produto final. O papel da cana no ciclo do carbono, impacto da palha da cana na indústria, limpeza a seco da cana, mecanismos da formação de cor do açúcar, floculação do levedo e diversidade bacteriana, novas leveduras para a safra 2008/09 foram alguns temas das palestras.
“Ninguém vai comprar álcool e açúcar se as usinas não tiverem sustentabilidade ambiental”, afirmou Henrique Amorim, presidente da Fermentec, durante o evento. De acordo com ele, as unidades produtoras devem implantar tecnologias que criem condições para assegurar um processo de produção ambientalmente correto. “Não existe uma tecnologia isolada que vai garantir essa sustentabilidade. É um conjunto de medidas”, enfatizou. Ele informou que 70% dos métodos analíticos da Fermentec não utilizam nenhum produto tóxico. “Daqui a um ano, esse índice vai estar em 100%”, declarou.