O “Velho Chico” continua sendo motivo de muito falatório. Virou assunto na beira do rio, nas esquinas e praças, nos canaviais e usinas, nas universidades, nos órgãos públicos, nas entidades ambientais e, até mesmo, no Congresso. Está provocando protestos, passeatas e abaixo-assinados. Alguns são contra, outros a favor. E, mais uma vez, ele não fez nada. Está quieto no seu pedaço – até meio parado, para quem enfrentava os obstáculos com mais vigor e agilidade. Indiferente a toda essa polêmica, continua seguindo o seu curso natural, ajudando muitas pessoas com o fornecimento de água, alimentos e a criação de oportunidades de trabalho. Estão, na verdade, mexendo com ele. Voltaram com aquela história de transposição, que existe desde o tempo de Dom Pedro II. Agora é a vez do governo Lula insistir com o assunto. Será que vai dar certo?
Para colocar o “Velho Chico” no centro das atenções, o Ministério da Integração Nacional coordena diversas ações para implantar o chamado projeto de Interligação da Bacia do São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Nome “pomposo” e coerente para uma iniciativa igualmente pretensiosa: resolver o problema de falta de água no Nordeste, que atinge principalmente 12 milhões de pessoas que vivem nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Segundo o engenheiro Rômulo Macedo, coordenador técnico do projeto, as mudanças, proporcionadas pela transposição, não serão tão significativas: haverá o desvio de apenas 1,4% do curso original do rio. Além disso, o projeto prevê a captação contínua – abaixo da barragem de Sobradinho – do volume de 26 metros cúbicos por segundo, o equivalente a 1% do que o rio despeja no mar. As captações serão feitas em Cabrobó, no oeste de Pernambuco e no lago da Barragem de Itaparica, próximo à divisa entre Pernambuco e Bahia. A água será, inicialmente, destinada para o abastecimento humano e, também, para matar a sede de animais. Somente quando a barragem de Sobradinho estiver vertendo, haverá disponibilidade da água para atividades econômicas. Nesta fase, o volume captado poderá alcançar até 127 metros cúbicos por segundo. O governo pretende iniciar as obras de transposição ainda no segundo semestre de 2005. (Veja mais na edição 138 do JornalCana)