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Rio Grande do Sul e Begreen anunciam parceria para construção de fábricas de hidrogênio e amônia de baixo carbono

Projeto de R$ 150 milhões visa produção de 6 mil toneladas anuais de amônia para reduzir dependência de importações e fomentar a sustentabilidade local

(Divulgação MME)
(Divulgação MME)

O governo do Rio Grande do Sul e a Begreen Bioenergia e Fertilizantes Sustentáveis firmaram uma parceria estratégica para a construção de três fábricas dedicadas à produção de hidrogênio verde e amônia de baixo carbono. As novas plantas industriais serão instaladas nos municípios de Passo Fundo, Tio Hugo e Condor, com um investimento estimado em R$ 150 milhões. O objetivo é fortalecer a produção local de insumos agrícolas, reduzindo a dependência da importação de fertilizantes e promovendo o desenvolvimento sustentável no estado.

O início das obras está previsto para o término das etapas de licenciamento ambiental e regularização fundiária, atualmente em andamento por meio do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio do Rio Grande do Sul. Juntas, as três fábricas terão capacidade para produzir 6 mil toneladas anuais de amônia anidra, um insumo essencial para a indústria de fertilizantes.

Luiz Paulo Hauth

Durante a fase de construção, a Begreen, que é fruto da união de três grandes investidores brasileiros, a Migratio Participações, Torao Participações e Pharo Participações, estima gerar cerca de 120 empregos diretos, além de criar aproximadamente 30 vagas permanentes para a operação e manutenção das fábricas. “Estamos comprometidos com o desenvolvimento local e com a criação de uma cadeia produtiva sustentável. A primeira unidade deverá iniciar suas operações no começo de 2027”, afirmou Luiz Paulo Hauth, diretor de operações da Begreen, durante o 3º Encontro Migratio de Energia e Gás (3º EMEG), realizado nesta terça-feira (17), em Santa Gertrudes-SP.

O mercado global de hidrogênio verde está em franco crescimento. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a capacidade instalada de hidrogênio verde deve crescer de 2 GW para 420 GW até 2030, um aumento impressionante de 21.000%. “Estamos na vanguarda dessa transição energética e o Rio Grande do Sul tem potencial para se tornar um polo estratégico na produção de energia limpa”, destacou Hauth, ressaltando o papel do estado no cenário global de sustentabilidade.

Atualmente, o Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes que consome, totalizando 39,4 milhões de toneladas em 2023, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A iniciativa da Begreen busca reduzir essa dependência externa, contribuindo para a segurança alimentar e a estabilidade da cadeia produtiva no país.

Para viabilizar o projeto, a Begreen estabeleceu um acordo de investimento com a Oriental Consultants Global do Brasil (OCG do Brasil), uma subsidiária do grupo japonês Oriental Consultants Global (OC Global). “Estamos comprometidos com a segurança alimentar global e enxergamos o Brasil como um ator chave para o fornecimento de alimentos de alta qualidade. Este acordo contribuirá para reduzir a dependência da importação de fertilizantes e aumentar a resiliência da cadeia de suprimentos agrícolas”, afirmou Kenichi Yamamoto, diretor executivo da OC Global.

Kenichi Yamamoto

Oportunidades e desafios para o hidrogênio e amônia de baixo carbono no Brasil

“A aprovação do marco legal de hidrogênio (Lei 14.948, de 2024), que ocorreu no início de agosto, ainda depende de algumas regulamentações, como a definição dos incentivos fiscais, por exemplo, mas já baliza questões importantes para o mercado se planejar sobre os investimentos no setor”, pontua Fábio Saldanha, sócio-diretor da Migratio, uma das empresas acionistas da Begreen.

Segundo o executivo, o marco legal definiu que os incentivos fiscais terão validade de cinco anos, a partir de janeiro de 2025. “Quem quiser aproveitar ao máximo esse período deve estar com as usinas prontas ou em estágio bem avançado até o final desse ano.  Isso reforça a importância dos debates desse painel”, acrescenta.

O sócio-diretor da Migratio destaca, ainda, que graças a nossa matriz energética ser baseada quase 90% em fontes renováveis, o Brasil está numa situação muito vantajosa para produção do hidrogênio de baixo carbono. “O processo de produção de hidrogênio verde demanda muita energia com origem em fontes renováveis. Então, a matriz energética brasileira traz condições muito objetivas para posicionarmos o país entre os maiores produtores do insumo no mundo, senão o maior”, frisa.

Saldanha lembra que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) recentemente divulgou que há mais de 20 projetos em andamentos no Brasil para a produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis de energia, com investimentos totais que já superam R$ 188 bilhões. “Pessoalmente, acho que isso é só o começo, o potencial é imenso e vem muito mais por aí”, aposta.

Fábio Saldanha