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Rentabilidade do setor da cana deve diminuir este ano

A produção nesta safra começou devagar, tanto em qualidade como também em quantidade. Segmento produziu 59% de etanol e o restante de açúcar. – São Paulo

O setor sucroalcooleiro brasileiro deve registrar uma redução em sua rentabilidade este ano. As razões apontadas para isso é o maior estoque de açúcar no mercado interno, dado a parada das exportações para a Índia, e a queda no preço do etanol, devido a expectativa de uma produção em linha com o ano anterior e a chegada das importações do produto dos Estados Unidos.

O que foi um mar de tranquilidade para as usinas no ano passado, com o açúcar atingindo recordes históricos nos preços, e o etanol perdendo competitividade em diversas regiões dado a sua valorização no final do ano, deve mudar agora. Isso porque um dos nossos maiores compradores de açúcar, a Índia, com volumes de embarques superiores a dois milhõe s de toneladas por ano, já não importa o produto desde fevereiro. A média histórica mensal das exportações para a Índia era de 300 mil toneladas por mês, nesse ano o único volume embarcado foi de 43 mil toneladas em janeiro.

Para o analista, Maurício Muruci, da Safras & Mercado isso refletiu diretamente nos preços do produto ofertado no Brasil, que desde janeiro já recuou mais de 28%. “Um dos nossos maiores compradores deixou de importar e está sobrando muito açúcar no mercado. Temos muito estoque de açúcar com outra safra entrando, então o receio é que o preço do produto caia muito. Por isso, as usinas, mesmo com a cana rendendo menos nessa safra, estão diminuindo o ritmo da moagem do produto”, contou ele.

Segundo relatório da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a moagem de cana nas unidades produtoras da Região Centro-Sul do País somou 32,77 milhões de toneladas na primeira quinzena de maio, queda de 6,69% em relação aos 35,13 milhões de toneladas observa dos em igual período do último ano. No acumulado desde o início da safra 2011/2012, a moagem totalizou 56,66 milhões de toneladas, queda de 39,51% ante 2010.

Já a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada de matéria-prima atingiu 115,20 quilos na primeira quinzena de maio, queda de 8,37% relativamente aos 125,73 quilos obtidos no mesmo período de 2010. No acumulado desde o início da safra 2011/2012, a concentração de ATR alcançou 108,77 quilos por tonelada de cana-de-açúcar, 8,51 quilos inferior ao observado na safra passada, em igual período. Segundo a entidade essa perda de qualidade foi causada por problemas climáticos, mas que ainda é cedo para prever uma redução nos volumes de açúcar e etanol produzidos.

Em relação ao etanol a situação parece ainda mais complicada já que o setor se concentrou em produzir mais etanol dado a demanda. Segundo o relatório da Única 59,87% da cana processada nesta safra destinou-se à produção de etanol, que atingiu a marca de 2,16 bilhões de litros no acumulado desde o inicio desta safra. Até aí a situação era normal, entretanto os altos preços praticados nas bombas de combustíveis reduziu drasticamente a busca pelo produto. E no mês de abril decidiu-se importar etanol de milho dos Estados Unidos. Essa importação somente chegou neste mês, justamente com o inicio das moagens, o que levou os preços a despencarem. “O anidro bateu no topo de R$ 3 o litro em abril, por isso o governo resolveu importar etanol de milho dos Estados Unidos. Agora esse etanol está parado no porto e o com a entrada da safra os preços cederam muito. Para combater quedas ainda maiores algumas usinas colocaram um piso para o anidro de R$ 1,20. E tem usina que não está vendendo se a distribuidora pagar menos que isso. O que acabou travando a queda do anidro, como eles queriam, para não voltar a média histórica de R$ 0,82”, comentou Muruci.

Segundo o representante da Unica em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado, a entidad e não recebeu nenhuma sinalização das usinas a respeito desse piso. “Sobre esse negócio de criar piso ou teto não sei até onde temos condição de opinar. O mercado é livre flutuando conforme a demanda. Não posso falar pelas usinas, não recebemos nada a respeito, defendemos o preço livre”, finalizou.