Mercado

Redução de etanol provoca descrença

O governo federal quer diminuir a crise de abastecimento que vem afetando o mercado brasileiro do etanol há pelo menos dois anos, com reflexo, principalmente no bolso do consumidor. Para isso, a partir de 1° de outubro, o percentual de mistura do álcool na gasolina comercializada nos postos de combustível de todo o País vai reduzir 5%, passando, de 25% para 20%.

Com essa medida, o governo espera reduzir a escassez na oferta do etanol, que tem puxado os preços para cima pressionando, também, o preço da gasolina, que é um dos fatores determinantes na inflação.

O problema é que muitos especialistas, inclusive do próprio setor sucroalcooleiro, que têm se manifestado sobre o assunto, não têm demonstrado muita crença de que a medida cumpra seu objetivo de reduzir a escassez de forma eficaz, pelo menos se não forem eficazes, também, as medidas de incentivo ao aumento da produção – que nos últimos anos ficou muito aquém do estímulo ao consumo.

Estado tende a continuar em primeiro na produção

Na safra 2010/11, encerrada em maio passado, foram beneficiadas 28,9 milhões de toneladas de cana e produzidos 716.049 milhões de litros de etanol (anidro e hidratado), além de 2,4 milhões de toneladas de açúcar (VHP e Cristal), segundo os dados do Sindaçúcar.

A meta para a safra que está começando este mês mantém a posição do Estado como o primeiro produtor de cana do Nordeste. Pernambuco, que ocupa o segundo lugar no ranking regional, já divulgou que terá na safra 11/12 o beneficiamento de 17,8 milhões de toneladas de cana, com produção de 1,6 milhões de toneladas de açúcar e 371.439 milhões de litros de etanol.

A escassez do etanol no mercado brasileiro, na avaliação do economista Cícero Péricles, é resultado da combinação de uma série de fatores que vêm se acumulando desde o início da produção dos carros flex – em 2003 – que trouxeram ao consumidor a segurança de poder optar – quando quiser e sem preciar mudar de carro – pelo uso do álcool ou da gasolina como combustível, de acordo com a conveniência de mercado.

País não tem sistema de regulação

Cícero Péricles destaca que o Brasil não tem sistema de regulação para estocagem do álcool, que sofre os efeitos da sazonalidade. Sem essa regulação, o estoque reservado para a entressafra é muito pequeno e insuficiente. Ele destaca, ainda, que a última safra do Sudeste – que responde por quase 90% da cana produzida no País – não atingiu o índice esperado, e sem oferta de cana em abundância, o etanol, também, torna-se escasso.

A principal preocupação do governo, segundo o economista, é pelo fato de que, como a participação do etanol na mistura da gasolina influencia na composição do preço, então, se o preço do álcool está alto, quanto maior o percentual da mistura, maior a probabilidade de subir também o preço da gasolina, que tem grande peso no cálculo da inflação. Dessa forma, o entendimento é de que é hora de reduzir o percentual, que em outra ocasião fora aumentado para garantir a venda da produção do álcool.

Diferença de preço entre gasolina e álcool é pequena

Na bomba do posto de combustível, a pistola do etanol praticamente não é acionada. Desde o ano passado, o consumidor alagoano percebe que a diferença cada vez menor no preço dos dois produtos, há muito vem dizimando as vantagens que tornavam o álcool economicamente atrativo. “Hoje, é prejuízo certo. Gasto muito mais com álcool do que com gasolina”, diz o consumidor Gustavo Correia.

Está certo. Hoje, rodar 100 quilômetros com álcool comprado em Alagoas é pelo menos R$ 7,00 mais caro do que na gasolina, considerando os preços de R$ 2,79 da gasolina e R$ 2,39 do etanol, registrados na maioria dos postos de Maceió.

E Alagoas não é um caso isolado. Nos final de agosto, só em Goiás, Mato Grosso e São Paulo era mais vantajoso abastecer com etanol do que com gasolina, segundo levantamento feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Nos outros demais estados, quem anda no álcool está acumulando prejuízos a cada quilômetro rodado.

Era bem diferente, há quatro anos. Em agosto de 2007, por exemplo, abastecer o carro com etanol era vantajoso em 20 dos 27 Estados da federação, e Alagoas era um