Preços camaradas e demora na entrega de equipamentos novos aquecem mercado de usados no setor sucroalcooleiro.
À primeira vista, não passa de um monte de sucata. A caldeira está enferrujada, a moenda submersa na poeira e a destilaria praticamente emperrou. Ferro-velho, na certa. Mas para olhos treinados ali reside ouro puro. Bem-vindo ao mercado de usados do setor sucroalcooleiro.
Com a avalanche de novas usinas de açúcar e álcool, os fabricantes nacionais de equipamentos estão sobrecarregados. Estima-se que existam cerca de 70 novas usinas em construção no Brasil.
E novos projetos têm de encarar uma longa espera que pode ultrapassar dois anos. Ou seja, a reboque da indústria de máquinas, o comércio paralelo anda a todo o vapor. A necessidade por equipamentos é tão urgente que usinas inteiras são desmontadas, reformadas e reconstruídas em regiões onde a lavoura de cana-de-açúcar são mais promissoras.
É o caso da Ibirálcool, que está sendo construída no Sul da Bahia. O maquinário vem de uma usina desativada há 3 anos em Maragogi, Alagoas. “Vamos reutilizar 80% das peças”, diz Paolo Sola, diretor da Agrounione, empresa sócia do empreendimento.
Hoje 50 homens trabalham na desmontagem da indústria em Alagoas, onde até os parafusos são catalogados. A partir de agosto, as peças começam a ser transportadas para a Bahia, numa enorme operação logística.
“Desmontar é fácil. O problema é montar tudo de novo”, conta Sola, que calcula que será consumido um ano no processo todo. Complicado ou não, o empresário já está de olho em uma outra usina de segunda-mão para levar para a Bahia.
O mercado de usados só existe em função de investimentos equivocados no passado. “São usinas que faliram por conta de clima impróprio ou má administração”, conta João Fogaça, de Sertãozinho, que tem uma empresa que assessora a compra e reforma de indústrias sucroalcooleiras. Ele mesmo negocia a venda do maquinário de duas usinas desativadas no Nordeste.
No Rio Grande do Norte, está à venda por US$ 20 milhões uma destilaria de álcool para o processamento de 300 mil litros de combustível por dia. Já em Alagoas, é possível arrematar por R$ 60 milhões uma usina com capacidade para moer 7 mil toneladas de cana por dia.
O preço não é exatamente uma pechincha, mas costuma valer muito a pena. “O custo de uma usina velha é menos da metade de uma nova”, diz Fogaça. Ele calcula que uma planta industrial com capacidade para processar três mil toneladas de cana por dia, demanda investimentos de R$ 70 milhões. Já uma usina de segunda-mão sai por R$ 30 milhões, incluindo os custos com equipamentos, reforma, transporte, obra civil e montagem.
Naturalmente, há desvantagens nesse mercado de usados. A mais evidente delas é que não há financiamento para os empreendimentos recauchutados. No caso de novas usinas, é possível levantar recursos junto ao BNDES, que são pagos ao longo de oito anos. Já os usados requerem pagamento à vista.
Por isso, a Dedini, maior fabricante do setor, faz a chamada repotencialização de equipamentos. “Além de corrigir componentes com desgaste, melhora o desempenho de peças antigas”, diz José Luiz Olivério, vice-presidente da Dedini. Essa recauchutagem só funciona em máquinas em bom estado. É mais ou menos como um carro. Não é uma Ferrari na produção de açúcar e álcool. Mas o bom e velho Fusquinha tem muita quilometragem pela frente.