Mercado

Reação firme no preço da commodity

O crescimento da produção de etanol nos Estados Unidos tem movimentado o mercado mundial de milho. A política norte-americana para a utilização de combustível renovável pretende aumentar a capacidade produtiva atual do etanol – que naquele país é obtido pelo processamento do milho – de 4,8 bilhões de galões para 6,7 bilhões em 2007.

Para dar conta do recado, os norte-americanos terão de aumentar a produção de milho, uma vez que as plantas de etanol já consomem 54,6 milhões de toneladas do grão. Até novembro deste ano, a USDA contabilizava produção de 272,9 milhões de toneladas de milho nos Estados Unidos para a safra 2006/2007, sendo que 243,5 milhões de toneladas estariam destinadas ao consumo interno.

Além de grandes produtores, os norte-americanos também estão na liderança das exportações do grão, com 70% do mercado mundial. Segundo a USDA, os EUA devem exportar 55,5 milhões de toneladas da safra 2006/2007. “O consumo de milho para a produção de etanol pode dobrar nos próximos anos e isso está elevando o preço do grão”, diz Alexandre Mendonça de Barros, professor de agronegócios da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

Um levantamento realizado pelo Valor Data apontou que o preço milho acumulou alta de 79,18% nos último 12 meses. Os cálculos estão baseados nos preços médios dos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo). “Só nos últimos 60 dias, a alta foi de 30%”, confirma Felix Schouchana, diretor de derivativos agropecuários e energia da BM&F.

De acordo com ele, a tonelada do grão valia em novembro US$ 156,00, em Chicago, e no, Brasil, chegou a R$ 350,00 (US$ 162,00, pela cotação média do mês). O preço do milho provocou ebulição na BM&F e consumidores do produto, como integradores e criadores de aves, entraram no mercado de futuro para garantir o preço do grão e evitar grandes impactos em seus custos. “Até outubro negociamos 108 mil contratos de milho. Já superamos o total de 2005 que foi de 98 mil contratos”, conta Schouchana.

O setor de aves é o que mais tem sofrido com a alta do preço do milho, uma vez que o grão faz parte da composição de 60% da ração utilizada na criação. “A saca de milho tem chegado na porta do produtor a R$ 25,00, o que representa alta de R$ 10,00 em média nos últimos meses”, diz Erico Pozzer, vice-presidente da Região Sudeste da União Brasileira de Avicultura (UBA). A dependência do grão para o setor, já acarretou em alta de 25% no custo da carne de frango.

Apesar de a alta no preço afetar o mercado interno no curto prazo, o Brasil tem a oportunidade de se tornar um exportador do grão. Mas para isso terá um longo caminho a trilhar na busca da produtividade. “A chance é ótima, porque somos capazes de triplicar a produção sem derrubar uma árvore sequer. Além disso, podemos colher duas safras ao ano”, anima-se Cesar Borges de Sousa, presidente Associação Brasileira das Indústrias do Milho (ABImilho). Considerada como baixa, a produtividade no Brasil é de 3,5 mil quilos de milho por hectare, enquanto “nos Estados Unidos, a produção é de 8,5 mil quilos na mesma área”, compara Sousa.

Em um mercado restrito e com poucos players como é o caso do milho, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking dos produtores mundiais do grão. Em 2005, a produção foi de 34,9 milhões de toneladas e, neste ano, deve chegar a 41,3 milhões de toneladas, segundo a ABImilho. Mas os brasileiros consomem praticamente toda a produção. Em 2005, o volume de exportação ficou em 1 milhão de toneladas, de acordo com o Ministério da Agricultura. Neste ano, o desempenho comercial foi melhor, e o volume registrado até julho foi de 1,8 milhão. A perspectiva é que até dezembro, o volume chegue a 3,5 milhões de toneladas.