A abertura dos mercados nesta quarta-feira tende a ser o grande teste para o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre combate à corrupção no seu governo. Se a volatilidade vista nos primeiros dias da semana serenar, será um indicativo de que a reação do governo foi eficiente.
Reagindo a denúncias de suposto esquema de pagamento a deputados comandado por seu partido, o PT, Lula afirmou na véspera que, se preciso, “cortará na própria carne” para enfrentar o problema.
“Temos… uma biografia a preservar, um patrimônio moral, uma história de décadas em defesa da ética na política. Não iremos acobertar ninguém, seja quem seja que esteja envolvido”, disse o presidente na abertura do 4o. Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasília.
“Cortaremos na própria carne, sem preservar ninguém.”
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebe os líderes do Senado e da Câmara às 10h para o processo de indicação dos nomes que vão compor a CPI dos Correios. Se algum partido não fizer a indicação, Calheiros já avisou que até às 15h ele mesmo designará os parlamentares e abrirá formalmente a CPI.
Nesse mesmo horário, às 15h, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), visita o Senado em ato político para avisar que o partido majoritário defende uma CPI “ampla, geral e irrestrita”, seguindo sugestão do presidente Lula de que não se economize esforço nas apurações de corrupção.
O cenário político e institucional se movimenta nesta quarta também pelo lado do PT. A executiva do partido está em reunião extraordinária em São Paulo e, após o encontro, o tesoureiro Delúbio Soares deve dar uma entrevista coletiva — ele foi acusado pelo presidente do PTB, o deputado federal Roberto Jefferson (RJ), de distribuir propina na Câmara dos Deputados.
Para o deputado João Paulo Cunha (SP), ex-presidente da Câmara, o momento político vivido pelo governo é “muito grave”.
“É uma crise muito grave por razões óbvias: porque atinge o governo com um tema que é muito caro para nós e porque dificulta a gente a recuperar a iniciativa”, disse ele em entrevista à Reuters.
João Paulo, um dos principais operadores do partido na Câmara e pré-candidato ao governo de São Paulo, afirmou que retomar a “iniciativa” é ponto chave para conter e, até mesmo solucionar, parte do desgaste sofrido com as recentes denúncias.