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Rally da safra: cana toma espaço da soja em Minas e São Paulo

A Equipe Sudeste do Rally da Safra 2006 começou ontem (20) a percorrer as regiões produtoras de grãos no Estado de São Paulo. Mas antes mesmo entrar no Estado, ainda em municípios do Triângulo Mineiro, o visual já começa a mudar. A cana-de-açúcar continua tomando áreas em São Paulo e avança em direção a Minas Gerais, principalmente em áreas de soja.

O produtor de Orlândia (SP), João Leite, assim como a maioria de seus vizinhos, está deixando de plantar soja para investir no cultivo da cana. “Tinha grandes áreas de soja e estou parando. Está muito difícil para o sojicultor sanar suas dívidas, com insumos caros, transporte caro, estradas malconservadas”, diz. E ele arrisca uma previsão para a safra 2007/2008. “A produção de soja no Brasil vai cair mais de 30%.” Para esta safra, nas áreas onde ainda continua com soja, Leite prevê produtividade de 50 sacas/hectare. “Isso porque conservamos a tecnologia na lavoura.”

Mas nem todos conseguiram manter os investimentos no campo. “Notamos um baixo uso de tecnologia nesta safra e a estimativa é que a média de produtividade na região seja de 45 sacas por hectare”, analisa o representante da Bunge, Manoel Alves da Silva.

De acordo com o agrônomo e consultor da Agroconsult, Guilherme Bastos, a safra de grãos em Ipuã, Guaíra, Miguelópolis e Ituverava está comprometida. “A realidade daqui é bem diferente do que já vimos até agora”, diz ele. Bastos acredita que ver soja nesta região no ano que vem será raridade.

Um dos motivos, analisa o consultor, é a pressão da cana. Em algumas regiões, a indústria está pagando em torno de 25 toneladas por hectare (com o preço da cana hoje, daria uma média de R$ 850) por ano para arrendar a terra. “O produtor não precisa fazer nada, vai receber esse dinheiro limpo.” Outro fator, que soma para essa realidade, é a pressão da ferrugem. Os produtores estão fazendo de 3 a 4 aplicação de fungicida. “O produtor já vinha descapitalizado e com esse aumento de custo está preferindo arrendar a terra para o plantio de cana.”

Em Orlândia, Morro Agudo, Jaborandi e São Joaquim da Barra, a situação está um pouco melhor. Segundo o agrônomo e consultor da Ímpar, parceira da Agroconsult na promoção do rally este ano, André Demartini De Nadai, os produtores desses municípios estão conseguindo controlar bem a ferrugem com três aplicações de fungicida. “A média de produção nessa região deve ficar entre 45 e 50 sacas por hectare.” Em algumas áreas desses municípios, segundo prévia do levantamento feito pela equipe do Rally da Safra, o rendimento pode chegar a 60 sacas/hectare. “Essa produtividade é em áreas irrigadas”, diz De Nadai.

Quanto à redução de áreas plantadas com grãos, a situação não é diferente nos municípios vizinhos. A cana também faz pressão e toma cada vez mais áreas de grãos. Na fazenda Palmital, em Morro Agudo, o agricultor Lindolpho Pio de Carvalho Dias cultiva cerca de 2.800 hectares. A cana já tomou conta da propriedade e só não vai tomar a área da soja na parte irrigada, que é de cerca de 480 hectares, e das áreas de reforma da cana, quando faz a rotação de cultura, cerca de 360 hectares por ano.