Preocupado com seu projeto de produzir biodiesel no Pontal do Paranapanema, o líder José Rainha Júnior, ficou fora do “abril vermelho”, a jornada de lutas do Movimento dos Sem-Terra (MST). Ele espera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dê aval para o projeto, que depende de recursos federais, por isso não concorda com a posição do MST de pressionar o governo com as invasões. “Eu tenho um lado, e não escondo. Acho que presidente Lula merece o nosso apoio.”
Ao invés de comandar invasões, Rainha percorre acampamentos e assentamentos do Pontal para divulgar o encontro que vai realizar em 1º de maio, em Mirante do Paranapanema, para discutir o biodiesel. Rainha espera reunir 3 mil pessoas no assentamento São Bento, em Mirante do Paranapanema. “Estou trabalhando dia e noite para organizar o seminário”, disse.
Apesar de exercer liderança sobre a maioria dos sem-terra do Pontal, Rainha não participou de nenhuma das ações do “abril vermelho”, marcado por invasões de fazendas e agências bancárias na região. “Já dei minha contribuição em fevereiro”, justificou. Ele se referia às ações do carnaval, quando seus liderados, em parceria com sindicatos ligados à CUT, invadiram 14 fazendas. Segundo Rainha, a luta pela terra é importante, mas também é preciso dar condições para os que já estão assentados. “Estamos com um projeto que vai ajudar as famílias a ter renda própria. Não é para ficar dependendo só do governo.”
O encontro organizado por Rainha vai discutir a cultura do pinhão manso, a planta que ele acredita ser a mais adequada para produzir biodiesel na região. Técnicos vão mostrar o potencial da planta para a produção do óleo. O projeto foi apresentado ao Ministério de Desenvolvimento Agrário e à Caixa Econômica Federal (CEF). Rainha quer que o governo o financie. “Está dentro dos propósitos do presidente Lula, de produzir biodiesel e ao mesmo tempo desenvolver a agricultura familiar.”
O evento terá também caráter político. Rainha convidou o ex-ministro José Dirceu e espera convencê-lo a lançar sua campanha pró-anistia durante o encontro. Para o lançamento oficial da fábrica de biodiesel, em data a ser definida, o líder dos sem-terra espera contar com a presença do presidente. “É um projeto do governo Lula”, disse.
LIMINAR
O juiz de Mirante do Paranapanema, Rodrigo Franzini Tanamati, deu liminar para a desocupação da Fazenda São Francisco, invadida na segunda-feira por 250 integrantes do MST, no distrito de Costa Machado. O juiz deu prazo até amanhã para os invasores deixarem a área voluntariamente. Se isso não ocorrer, os sem-terra serão despejados pela Polícia Militar. O coordenador Valmir Ulisses Sebastião disse que há possibilidade de ocorrer a desocupação ainda hoje.
Ontem, cerca de 80 manifestantes, ligados ao MST e à Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), ocuparam o prédio do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) em Bebedouro. Segundo o diretor da Feraesp, Miguel Ferreira dos Santos Filho, o protesto é pelo fato de o Itesp não ter retirado os tocos de eucaliptos da área onde foram instalados 16 assentamentos. “Isso está atrapalhando o desenvolvimento dos assentamentos, pois impede o plantio”, explicou.