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Queda dos ativos de usinas vai causar nova onda de aquisições

A baixa nos preços do açúcar e do álcool este ano também desinflaram os valores das usinas, até então superestimados pelo boom da agroenergia. Alguns empresários acreditam que até agora a queda desses ativos já tenha alcançado 30%. Outros avaliam que ela ainda não aconteceu. A perspectiva de em 2008 haver novos recuos no açúcar e no álcool deve ampliar a tendência de fusões e aquisições no setor.

Segundo levantamento da Pricewaterhouse Coopers, em 2007 foram feitos 34 negócios com usinas, sendo dez aquisições (controle acionário ou 100%), nove compras (participação minoritária) e 15 joint ventures (união de grupos para implantação de um projeto ainda não existente). O movimento foi quase duas vezes maior que em 2006, quando 19 negócios foram fechados, conforme explica Fábio Niccheri, sócio da área de fusões e aquisições da Price.

Ele avalia que o que pode ocorrer em 2008 é muita oferta de venda de usina, cujo proprietário está com baixa capacidade financeira para atravessar um segundo ou terceiro ano de preços de açúcar e álcool ruins. “Pode haver uma nova onda de aquisições de empresas que investiram em expansão, tomando financiamento e que, ficaram sem fôlego para esse período de crise”, explica Niccheri.

Ainda dentro dessa tendência, há investidores novos no ramo que, sem mais capital para investir, podem vender o aplicado até o momento com um ágio, suficiente apenas para recuperar custos, segundo o especialista.

Sérgio Thompson-Flores, presidente da Infinity Bio-Energy, avalia que o ano de 2007 trouxe o patamar de preços de ativos de usinas para nível mais realista. Pelo levantamento da empresa, os valores estão sendo negociados a R$ 100 a tonelada instalada, valor que estava de 30% a 40% no pico de alta do setor, entre o segundo semestre do ano passado e o primeiro deste.

A Infinity fez cinco aquisições e também implanta projetos novos. Entre aquisições e construção, a Infinity já definiu a moagem de 18 milhões de toneladas, que demandaram US$ 500 milhões em investimentos. Para cumprir a meta original – de atingir 25 milhões de toneladas até 2012 – falta à empresa acertar mais 7 milhões de toneladas, capacidade cuja implantação ainda não foi definida, se com aquisições ou projetos novos. Até o final de 2008, mais US$ 500 milhões devem ser aplicados, segundo Thompson-Flores.

“Essa meta de processamento pode ser estendida em mais 10 milhões de toneladas, caso boas oportunidades de aquisições surjam em 2008”, avisa o presidente da Infinity.

O setor é muito desconcentrado, explica Eduardo Pereira de Carvalho, diretor de Relações Institucionais da ETH Bionergia, braço do grupo Odebrecht. “São mais de 350 unidades na mão de 200 grupos econômicos diferentes. O maior, não mói 8% do total. Os quatro ou cinco maiores não têm nem 15%”, resume Carvalho. Ele considera ser natural que um setor com essas características tenda a ser pressionado por um movimento de concentração. “E eles já vêm ocorrendo há seis ou sete anos”, conta.

Além do cenário de preços baixos do açúcar e do álcool, o recuo nos ativos das usinas à venda pode ser mais acentuado pelo fato de muitos grupos terem concluído ou estarem em via de terminar seus planos de investimento.

A ETH Bioenergia, por exemplo, passou o ano de 2007 atrás de oportunidades de aquisições de usinas e compras de projetos em andamento e conseguiu fechar projetos de implantação de toda a sua meta de moagem: 46 milhões de toneladas. “A única usina foi a Alcídia. Os outros foram projetos já iniciados e construções próprias”, resume Carvalho.