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Quando a crise canavieira também faz bem

Na crise do setor canavieiro aparecem com maior impacto, os efeitos dos procedimentos incorretos que resultam na elevação dos custos da produção da cana. Se a remuneração histórica em 10 anos é de R$ 55,00/tonelada da cana entregue na usina, os custos para produzi-la e mais o CCT (corte, carregamento e transporte até a unidade industrial), não podem passar R$ 45,00 por tonelada. Para esta análise considera-se que o produtor inicia e termina a safra com a usina, e que faz parte dos R$ 45,00/tonelada todos os custos reais de todas as atividades, sem que haja algum subsídio criado pela estratégia da compra da cana. Com a crise estaremos buscando formas de proceder, que permitirão reduzir os custos da produção da cana, para que fiquem abaixo do valor médio histórico da sua rentabilidade econômica.

Procedimentos a serem reavaliados para readequação, porque estão contribuindo para o aumento do custo de produção da cana:

– Pagamento de arrendamento com valor muito elevado.

– Ter canavial muito distante da usina.

– Distribuição do calcário muito fino em condição de vento forte e/ou com demora para incorporá-lo.

– Aração, subsolagem, ou nada. (Se houver faixa do terreno sem descompactar, a sulcação fica torta ao usar o piloto automático, o que dizer então com relação à penetração das raízes das plantas, da infiltração da água da chuva, da movimentação da umidade do solo?).

– Uso de altas dosagens de corretivos e nutrientes, além do que a cana é capaz de utilizá-los.

– Plantio de variedades susceptíveis a alguma doença da ferrugem.

– Colher quase todas as variedades em qualquer período da safra.

– Não estar plantando variedades de cana aprimoradas por serem novas, que poderiam superar aquelas antigas que estão sendo plantadas há muito tempo.

– Considerar o PCC ou ATR como única referência da maturação da cana.

– Não dar tratamento diferenciado para os solos arenosos de baixa umidade natura, ao definir a variedade a ser plantada e a época da colheita.

– Ter transbordo comprido, em local onde a sulcação foi em curva, onde há “matação de sulcos” ou quando a faixa de manobra é estreita.

– Permitir o pisoteio das rodagens na linha da cana por ocasião da colheita em condição de solo úmido.

– Uso de maturador químico em variedades de maturação mediana ou tardia, para colhê-las antes das variedades precoces.

– Não ter o desponte da cana ereta quando a colheita é mecanizada.

– Ter perdas de cana na colheita mecanizada na forma de lascas, de toco alto, meia cana ou cana inteira em quantidades desnecessárias.

– Entrega na unidade industrial de cana com muita impureza mineral e/ou vegetal.

– Termino da safra muito tarde em solo inapropriado para este tipo de manejo.

– Termino da safra muito tarde, colhendo variedades de cana que não permitem o bizamento.

– Desperdício da ponta da cana que pode ser utilizada para a alimentação animal.

– Desperdício da torta de filtro, levedura e vinhaça que podem ser utilizadas para ração animal.

– Uso de agrotóxicos quando não está comprovado que é necessário.

– Não estar havendo irrigação plena nas condições que permitem obter elevadas produtividades agrícolas a custos compatíveis.

– Não estar formando os funcionários para executarem os procedimentos da melhor forma possível.

– Falta de conhecimento dos custos reais para produzir a cana e entregá-la na unidade industrial.

– São poucos os bons experimentos existentes para que as pessoas aprendam o que é melhor a ser executado.

– É muito grande a diversidade de procedimentos para a mesma operação, sendo que muitos deles são indevidos para ter custo baixo.

Tudo indica que ao estarmos sob o efeito total da crise que está por vir, as pessoas deverão repensar a permissão de ter os procedimentos citados acima. Ao haver a readequação dos procedimentos, irá contribuir para a redução do custo total da cana entregue na usina. É certo que a crise total irá acontecer quando o Brasil não mais conseguir vender açúcar via exportação por valores próximos dos atuais, que é de 23 centavos de dólar por libra peso. No momento a crise que existe é ainda somente o efeito de estar produzindo com prejuízo a cana para fazer etanol, que não é vendido na média de 10 anos por no mínimo R$ 1,30/litro, livre de todas as taxas e impostos já corrigindo a inflação. Esta base de remuneração é projetada para pagar os custos atuais que passam de R$ 45,00/tonelada de cana, mas que não poderão remunerar algumas unidades que se aproximam dos R$ 80,00/tonelada de cana. Quando o Brasil não estiver precisando abastecer o mercado mundial de açúcar, porque os países grandes produtores da commodity voltaram a exportar, também o açúcar irá remunerar mal a cana. Neste momento é que o Brasil estará vivendo a crise plena, e é quando será fundamental não ter custos elevados para produzir e entregar a cana na usina.

José Alencar Magro

Engenheiro Agrônomo

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