Mercado

Pubs esperam impulso de nova lei

Enquanto o governo Tony Blair aposta que a nova lei que relaxa o horário de fechamento dos pubs irá diminuir gradativamente o consumo de álcool no Reino Unido, a indústria de bebidas tem planos opostos.

Um relatório do banco de investimentos Goldman Sachs, encomendado por uma das maiores cadeias de pubs britânicas, estima que as vendas de bebidas alcoólicas crescerão por volta de 10% em 2006, o que significa uma injeção de aproximadamente 500 milhões de libras (R$ 2 bilhões) no mercado.

A lei entrou em vigor à zero hora da última quinta-feira. Na primeira noite, não houve mudanças significativas no movimento nem no comportamento dos freqüentadores -ao contrário, o clima foi de uma calmaria peculiar, segundo a polícia.

O primeiro teste definitivo seria no final de semana, quando mais estabelecimentos estreariam os novos horários.

O relatório do Goldman Sachs, publicado pelo diário “The Sunday Times”, foi encomendado pela rede Mitchells & Butlers, que administra cerca de 2.000 pubs no Reino Unido. Afirma que o grupo será um dos principais beneficiados com a nova lei, aumentando os lucros em 33 milhões de libras/ano. As sete maiores cadeias de pubs, que operam ao menos 1.000 estabelecimentos cada, vendem juntas 5 bilhões de libras ao ano.

Os críticos da nova legislação, que a encaram como uma vitória do lobby do álcool sobre o governo, lembram que uma das principais referências do Ministério do Interior para criar a lei foi um estudo chamado “Bebidas e Desordem Pública” -que conclui que a flexibilização dos horários levaria a uma “redução significativa” dos delitos relacionados ao álcool e foi bancado pela indústria de bebidas para estimular o consumo responsável de álcool. Outro relatório usado pelo governo foi preparado pela “bancada do álcool” no Parlamento, que recebe cerca de 35 mil libras/ano da indústria de bebidas.

Reportagem recente no jornal “The Observer” mostrou ainda que essa mesma indústria preparou um plano de incentivos e bônus para os pubs que, a partir da nova lei, conseguissem incrementar suas vendas de bebidas.

Dos quase 200 mil estabelecimentos autorizados a vender álcool na Inglaterra e no País de Gales, incluindo supermercados e lojas de conveniência, 70 mil obtiveram licenças para mudarem seus horários. Parece pouco, mas é uma pequena revolução. Até a quinta-feira, pouquíssimos pubs e clubes noturnos tinham permissão para vender bebidas até depois das 23h. Dependiam de requisitos como vizinhança (jamais seria concedida licença numa área muito residencial) e histórico (locais que atraiam confusão nunca ganhariam a permissão).

Com a nova lei -que sepulta uma outra vigente desde o fim da Primeira Guerra-, o governo tornou menos rigorosa a concessão, mas em contrapartida aumentou o controle sobre os locais licenciados e ampliou o poder de repressão da polícia.

Apesar de reconhecer que no início o número de prisões relacionadas à bebedeira poderá aumentar, o governo alega que pretende tornar “mais adulto” o hábito de beber dos britânicos. E acabar com o “binge drinking”, a modalidade de beber contra o relógio comum no país.