Mercado

Protocolo beneficia setor sucroalcooleiro

Acordo criado em 1997 para tentar diminuir a emissão de gases entra em vigor hoje; substituição de combustíveis fósseis por renováveis gera expectativa em Piracicaba

A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, a partir de hoje, deve beneficiar o setor sucroalcooleiro, uma das bases da economia de Piracicaba. Isso porque os países signatários do acordo –– criado em 1997 para tentar diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa –– têm entre as opções para atingir tal meta, a substituição dos combustíveis fósseis por renováveis e a produção de energia limpa.

A pesquisadora Daniela Bacchi Bartholomeu Bonato, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), disse que para auxiliar na concretização dessas metas, os países signatários podem comercializar créditos de carbono, uma unidade encontrada para viabilizar projetos.

Os créditos são certificados de redução de emissão fornecidos por entidades. Os compradores, empresas por exemplo, podem usar esse crédito como um bônus. Cada bônus, cotado em dólar, corresponde a uma tonelada de carbono equivalente.

“Acredito que, devido às características da região, as usinas podem ser beneficiadas nesse mercado, por conta da produção de energia, a partir do bagaço de cana, e da própria produção do álcool combustível”, diz.

A pesquisadora também deixa claro que a venda de créditos pode ajudar na implantação de projetos, mas não viabilizá-los integralmente. “Uma usina, por exemplo, não deve achar que apenas o crédito vai ser suficiente para a implantação de projetos. Ele vai ser um recurso adicional e pode tornar a taxa interna de retorno mais atraente.”

Segundo Daniela Bonato, em nível de Brasil, algumas usinas têm se preparado em busca da certificação necessária para a comercialização desses créditos. Na região ela desconhece as que estejam nesse estágio.

O JP buscou informações sobre o assunto junto ao Grupo Cosan, dono das usinas da região, mas não recebeu retorno até o final da tarde de ontem.

Na região de Sertãozinho, a Usina São Francisco já fez uma estimativa. Espera receber US$ 194 mil por ano com a venda de crédito de carbono. Para cada certificado emitido, a empresa recebe de US$ 5 a US$ 20.

Para o empresário Tarcísio Ângelo Mascarim, presidente do Simespi (sindicato patronal da indústria de Piracicaba), a possibilidade de exportar álcool para os países que assinaram o Protocolo de Kyoto e que vão iniciar a redução das emissões de gases poluidores e causadores do efeito estufa, traz boas perspectivas para o mercado local.

“A economia mundial está favorável ao setor sucroalcooleiro e vai fazer crescer ainda mais a economia de Piracicaba.”

MERCADO – Uma grande polêmica do protocolo é o preço da negociação de direitos de emissão de carbono. A ausência dos EUA como comprador, o maior lançador de carbono na atmosfera, faz com que a troca entre os outros países seja altamente desvalorizada e o aumento dos mercados só tende a piorar a situação.

Segundo o professor Álvaro Harmond, do Ibmec-SP, “estamos falando de um conceito de negócio novo, não temos como fazer projeções. Esse mercado vai trabalhar com oferta e procura”, diz.

Ele também acredita que uma empresa vai estar mais disponível a pagar caro por créditos de carbono, na medida em que perceber que seu cliente acha que ela cria problemas sociais.

Em dezembro de 2004 foi criado o Mercado Brasileiro de Redução de emissões (MBRE), a partir de um convênio entre a BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) e o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A idéia é que a bolsa estimule o desenvolvimento de projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) e realize negócios no mercado ambiental.