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Promissora aposta no biocombustível

Uma empresa de ônibus na cidade de São Paulo já opera com diesel em mistura de 30% de biodiesel, 62% de diesel convencional e 8% de álcool anidro. A experiência tem função ambiental ambiciosa: confirmar que este combustível reduz em 40% o material particulado e a fumaça preta. Além deste aspecto, o projeto apressa o experimento já em curso de utilizar 2% de biocombustível.

A frota da empresa que já opera com 30% de biodiesel trabalha com 1.880 veículos e consome 65 milhões de litros de diesel por ano. Com o projeto implementado, o grupo utilizará 19,5 milhões de litros de óleo vegetal. O fornecedor, como determinam as normas da Agência Nacional do Petróleo (ANP), é a BR Distribuidora, que compra o biodiesel em leilões promovidos pela ANP e exige o selo social, confirmando a origem do produto na agricultura familiar. A perspectiva da agência é de assegurar a oferta de 600 milhões de litros de óleo vegetal já em 2007.

Entre outras experiências, o projeto da empresa de ônibus paulista é um bom teste de viabilidade operacional e da capacidade de distribuição do novo combustível. Segundo o Programa Setorial de Política Energética do governo federal, o biodiesel já é vendido em mais de 1.700 postos e disponível em oferta fechada para 500 grandes consumidores.

O governo assegura que até o final deste ano 3.500 postos terão o óleo vegetal à venda. Em meados do próximo ano, 3 mil grandes consumidores terão a demanda atendida. Nesta perspectiva é que o governo garante a oferta de mais de 600 milhões de litros até dezembro do próximo ano. Essa quantidade só será atingida porque a Petrobras, além de comprar de terceiros, também investirá em produção até o final do ano que vem.

A oferta de biodiesel está necessariamente condicionada à questão de preços. A recente disparada de preços do óleo acentuou o interesse de governos e consumidores em combustíveis alternativos para substituir os fósseis. Crescentes preocupações ambientais também impulsionaram este interesse, em especial após as novas evidências científicas quanto ao aquecimento global. A Goldman Sachs já apresentou estudos mostrando que os preços do biodiesel devem cair (tornando-os atraentes em relação aos do óleo) quando os governos europeus determinarem misturas obrigatórias de combustíveis vegetais.

A consultoria internacional estima que a produção do biocombustível alcançou o preço de US$ 982 a tonelada; porém, este preço deve cair 18% até meados do próximo ano, quando a mistura de combustíveis vegetais for obrigatória ao diesel convencional. O consenso entre especialistas em energia é que o biodiesel não é competitivo sem subsídios governamentais. Sem essa ajuda oficial o preço do petróleo precisaria bater em US$ 110 o barril para que o biocombustível fosse competitivo. Obviamente está embutido no preço deste combustível alternativo a complexa dependência ao petróleo.

A perspectiva de demanda do biodiesel pode ser avaliada pelo interesse já manifestado pelos concorrentes dos produtores brasileiros. A Argentina, por exemplo, histórica competidora dos sojicultores brasileiros, também já acelerou projetos próprios de biodiesel. Com uma diferença: os argentinos pretendem abastecer prioritariamente o mercado externo com o produto, ao contrário do Brasil. Da oferta argentina, 75% está destinada à venda externa.

Os técnicos do Ministério do Desenvolvimento Agrário estimam que antes de 2010 o Brasil não terá condições de atender à demanda externa, fato que naturalmente abre espaço, em especial no mercado europeu, para os produtores argentinos. Alguns produtores brasileiros também reclamam da posição do governo de privilegiar a exportação de soja in natura, e não industrializada em óleo e farelo, e temem que o mesmo ocorra com o biodiesel.

Os preços do óleo diesel no Brasil têm vínculos com geração térmica de energia. Os problemas de oferta do gás, notadamente o de origem boliviana, geram demanda específica para o óleo diesel convencional. Basta este aspecto para justificar o apoio necessário para que o projeto biodiesel avance.

kicker: Até dezembro, 3.500 postos terão óleo vegetal à venda, com oferta de mais de 600 milhões de litros, porque a Petrobras investirá em produção