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Projeto pode motivar avanço da cana no Nordeste

Um novo projeto abraçado pelos governos federal e estaduais promete dar novo rumo ao setor canavieiro do Nordeste, região que tem sua expansão limitada pela topografia acidentada e pelo clima adverso.

O programa em questão é no lado pernambucano do São Francisco, e ganhou força com o condicionamento imposto pelo governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) de só dar apoio ao plano de transposição do rio caso fosse incluído uma rede de canais de 520 quilômetros interligando parte do sertão do Estado.

“Esses canais agregariam mais 166,8 mil hectares de terras agricultáveis. Claro que nem tudo fica com o setor sucroalcooleiro, mas poderíamos agregar de 80 mil a 100 mil novos hectares de cana”, afirma Renato Cunha, presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE).

Cunha diz que o assunto já despertou o interesse de empresas, e que pelo menos cinco grandes grupos já teriam demonstrado a intenção de investir de R$ 800 milhões a R$ 900 milhões na implantação de usinas e destilarias na área formada pelos 17 municípios que integram as novas áreas de expansão.

Conforme o executivo, boa parte das empresas da região que migraram para o Centro-Sul foi em busca de relevo menos acidentado, maior oferta hídrica, terras agricultáveis e melhor infra-estrutura logística. “Ao contrário da Zona da Mata [onde se concentra a produção de cana de Pernambuco atualmente], sertão oferece áreas planas, que permitem uma maior mecanização”, afirma ele.

Cunha acrescenta que as novas áreas poderiam elevar a produção média do Estado, hoje em torno de 15 milhões de toneladas de cana, em pelo menos 30%. A produção do Nordeste como um todo está prevista em 52 milhões de toneladas na temporada 2006/07. Outra vantagem de viabilizar um pólo regional no interior é o fato de o período de safra ser complementar ao da Zona da Mata. Enquanto nesta a safra vai de setembro a março, no sertão o intervalo é entre abril e outubro.

Na Bahia, a bem sucedida experiência da Agrovale em Juazeiro, a 494 quilômetros de Salvador, é o cartão de visitas do Estado para atrair novos projetos do setor sucroalcooleiro. A empresa, com 25 anos de atuação, explora hoje uma área de perto de 16 mil hectares, mas já tem projeto de ampliação para 20 mil hectares até 2012.

Com base nos números do desempenho da Agrovale, a produtividade da área de cana do semi-árido baiano é de 100 toneladas por hectare, acima das 75 toneladas da média nacional. Na Bahia, a idade do primeiro corte é de 14 meses, ante os 18 meses médios do Centro Sul. Cada tonelada de cana cortada no Estado rende 120 quilos de açúcar ou 90 litros de álcool – no Centro Sul no país são 115 toneladas e 85 litros, respectivamente.

A ainda precária infra-estrutura de transporte, entretanto, é um dos fatores que inibem a chegada de novos empreendimentos do ramo na Bahia. “Se comparado com o Centro Sul, o investimento inicial no semi árido também é um pouco maior por causa da estrutura de canais de irrigação que precisa ser instalada”, diz José Mário Carvalhal de Oliveira, diretor de Política e Economia Agrícola da Secretaria da Agricultura da Bahia. Para uma área de 5.250 hectares, diz, o aporte exigido chega a US$ 23 milhões.

No ano passado, o governo baiano criou o Programa para o Desenvolvimento do Pólo Sucroalcooleiro do Médio São Francisco, que busca atrair investidores para o cultivo de cana irrigada no Estado, em uma área de 533 mil hectares.

O governo da Líbia, que visitou regiões de plantio em meados de 2004, mostrou interesse em participar, por meio de parcerias público-privadas, do Projeto Baixio de Irecê, que prevê uma área de 59,6 mil hectares de cana irrigada nos municípios de Itaguaçu da Bahia e Xique Xique. Técnicos líbios vão novamente visitar potenciais áreas de cultivo até o fim do ano.

O Baixio de Irecê, que interessou aos líbios, é um dos projetos de cana irrigada mantidos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Quase todos dependem de recursos federais para a conclusão da primeira etapa de implantação dos canais de irrigação, o que também dificulta a atração de empresas – o Projeto Baixio de Irecê, por exemplo, já recebeu R$ 49 milhões em investimentos, mas ainda são necessários R$ 55 milhões para o término da primeira etapa do canal principal.

Segundo Elísio Contini, chefe de assessoria de gestão estratégica do Ministério da Agricultura, o governo pode incluir os projetos de irrigação do Nordeste no Plano Nacional de Agroenergia, lançado oficialmente no dia 14 de outubro. O governo está acompanhando as discussões de trabalho do setor privado e deverá começar a discutir a viabilidade deste projeto no início de 2006.

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