Açúcar e etanol

Projeções apontam que produção global de etanol será nove vezes maior até 2050

Especialistas discutem desafios e oportunidades no setor sucroenergético durante reunião da Fermentec

Projeções apontam que produção global de etanol será nove vezes maior até 2050

A perspectiva de consumo de etanol no mundo até 2050, incluindo suas mais diversas utilizações (hidrogênio, SAF, Bunker e etileno) está estimada em 810 milhões por tonelada, o equivalente a 9,4 vezes a produção mundial hoje. O dado foi apresentado por Plínio Nastari da DATAGRO, durante reunião anual 2024 da Fermentec, realizada recentemente, em Ribeirão Preto-SP.

Com o tema “Superando desafios, criando oportunidades”, o evento contou com painéis focados em cinco áreas principais: Estratégico, Etanol de Milho, Açúcar, Tecnologias Digitais e Processos e Tecnologias Industriais. O presidente da Fermentec, Henrique Berbert de Amorim Neto, destacou o cenário positivo para as energias renováveis no Brasil, afirmando que, desde o Proálcool, o país não via um fluxo tão intenso de investimentos no setor.

Segundo Plínio Nastari, o consumo global de etanol deverá crescer significativamente nos próximos anos, impulsionado por diversas aplicações, como hidrogênio, SAF (combustível sustentável para aviação), Bunker e etileno. Ele destacou o papel essencial do etanol na transição energética e lembrou que o Brasil tem uma história centenária no uso desse biocombustível, iniciada em 1924 na Usina Serra Grande, em Alagoas.

Plínio Nastari, presidente da DATAGRO

No entanto, Nastari alertou para a queda no consumo de etanol entre os veículos flex no Brasil. De 41,5% em 2018, esse número caiu para 29% em 2023, com tendência de redução. Mesmo assim, o país segue como referência global em energia limpa. “Em 2023, 49,9% da nossa oferta primária de energia é renovável, enquanto a média global é de 14,2%. A cana-de-açúcar sozinha representa 16,5% dessa oferta”, disse, destacando a importância desse recurso no cenário energético brasileiro.

Durante o painel sobre etanol de milho, o professor Luís Cortez, da Unicamp, ressaltou o avanço da produção desse tipo de biocombustível no Brasil, que está na vanguarda tecnológica e estrutural. Cortez destacou que o modelo flex fuel, que integra cana-de-açúcar e milho na mesma planta industrial, oferece uma grande vantagem competitiva ao país, tanto no âmbito econômico quanto ambiental.

Henrique Amorim

Já Guilherme Marengo Ferreira, da Fermentec, reforçou a sinergia entre a produção de cana e milho, evidenciando que as usinas multiflex podem otimizar a produção ao destinar todo o caldo da cana para a fabricação de açúcar, enquanto o milho é utilizado na produção de etanol. Esse modelo, segundo Ferreira, também gera coprodutos de alto valor, como DDGS (subproduto para alimentação animal) e bio-óleo, agregando valor à cadeia produtiva.

O professor Gonçalo Pereira, da Unicamp, criticou a visão predominante de que o carro elétrico a bateria é a única solução para a descarbonização. Segundo ele, os biocombustíveis, como o etanol e o SAF, têm um papel crucial na transição energética, especialmente em setores como a aviação, onde a eletrificação é inviável. Pereira também destacou novos projetos promissores, como a produção de biochar, macaúba, agave e cana-energia.

Gonçalo Pereira

Por sua vez, Mário Lúcio Lopes, da Fermentec, apresentou inovações em desenvolvimento na empresa, incluindo o Cellev, projeto que transforma bagaço de cana em levedura, e o Oleolev, que converte compostos orgânicos da vinhaça em óleo e antiespumante. Lopes ressaltou que essas inovações não apenas ampliam a oferta de produtos no mercado, mas também aumentam a eficiência e a sustentabilidade das usinas.

O painel sobre açúcar trouxe à tona desafios técnicos para garantir a qualidade do produto final. Claudinei Rodrigues, da Usina Graneli, e Murilo Vilela, da Fermentec, apresentaram um projeto de ampliação da capacidade de evaporação e fabricação de açúcar, implantado em tempo recorde de seis meses. Rudimar Cherubin e Eduardo Borges discutiram os fatores que influenciam o teor de cinzas no açúcar e como controlá-los para garantir um produto de alta pureza.

Outro ponto abordado foi o impacto da cana bisada, que apresenta desafios adicionais na safra, como a redução na eficiência de extração e aumento no consumo de insumos. Thiago Mesquita, da Fermentec, apresentou estratégias para mitigar esses efeitos, destacando estudos de caso de usinas que conseguiram contornar os problemas ao longo da safra.

O encontro foi finalizado com palestra motivacional do nadador profissional Gustavo Borges, que falou sobre sua trajetória que trouxe muita inspiração aos participantes para enfrentarem os desafios desta e da próxima safra.

Gustavo Borges