Preparar melhor os cooperados para ampliar o faturamento. Este é o maior desafio do cooperativismo brasileiro para os próximos anos, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que agrega os mais de 195 mil empreendimentos do setor. O resultado esperado é o de se aumentar ainda mais o faturamento, ao mesmo tempo em que se reduz o número de cooperativas por um processo de fusões.
Em 2004, o faturamento do setor totalizou R$ 65 bilhões, valor 18% superior ao registrado em 2003, comprovando a ampliação do mercado das cooperativas. Para a OCB, porém, mais importante que esse aumento do faturamento é que este crescimento foi superior ao do número de cooperados (que cresceu 7% em 2004). Isso significa que cada cooperado está ganhando mais, o que eles pretendem manter para os próximos anos.
“Temos de entrar em um processo de profissionalização da gestão econômica das cooperativas, já que elas precisam agregar valor aos cooperados”, ressaltou o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas. “Não há mais espaço para o amadorismo. Estamos enfrentando no mercado empresas que investem pesado na profissionalização de todos os seus setores, e não podemos ficar para trás”, disse ele.
Cooperado é um sócio
Para conseguir esse intento, o movimento tenta mudar alguns conceitos ainda arraigados em boa parte dos integrantes de cooperativas. “Antes de mais nada, é necessário fazer com que o cooperado sabia que ele não é nem cliente, nem fornecedor e nem empregado da cooperativa. Para todos os efeitos, ele é um sócio e deve lutar para que a cooperativa cresça”, disse.
“Depois disso, passamos a treinar mais os cooperados e também a criar novas lideranças que consigam manter o espírito cooperativista”, acrescentou Márcio Lopes de Freitas.
Para poder se expandir a um ritmo superior ao crescimento do próprio País, as cooperativas estão de olho no mercado externo. E quem saiu na frente foram as cooperativas agrícolas, especialmente as de produção de grãos.
No ano passado, elas venderam US$ 2 bilhões ao exterior, 165% a mais do que há cinco anos. Boa parte em grãos — os cooperados produzem 30% do que é exportado no setor. Em 2004, a China foi o maior comprador dos produtos das cooperativas, totalizando US$ 328,4 milhões. Países como Alemanha, França, Holanda, Emirados Árabes e Japão, por exemplo, importaram produtos como soja, milho, café, açúcar e carne suína.
Mas, do mesmo modo que o setor agrícola permitiu às cooperativas ampliar seu faturamento, nos últimos anos, ele também pode tornar-se o motivo de um possível mau desempenho, este ano, especialmente devido à redução do preço no mercado internacional.
“O ano não começou muito bem, com perdas de renda no agronegócio. No total, houve perda de US$ 10 bilhões, e isso certamente se refletiu nas cooperativas agrícolas”, disse Lopes de Freitas.
Processo de fusões
Outra preocupação das cooperativas, atualmente, é buscar se juntarem para se tornarem associações mais sólidas e com maior poder de negociação. Esse processo está em franca expansão, informou a OCB.
“Essa medida é bastante difundida por nós, porque elas teriam maior poder de negociação tanto com fornecedores como com clientes. Além disso, elas ganham eficiência econômica e social, já que os seus cooperados têm mais retorno financeiro”, explicou o assessor técnico da OCB, Evandro Ninaut.
“No setor agrícola, esse processo é ainda mais acentuado, já que há redução da área plantada e aumento na produtividade”. Os números já mostram esta involução na quantidade de cooperativas: em 2003, havia 7.355 no País, em comparação com 7.136, em 2004.
Atualmente, quem mais colabora para o aumento do número de empreendimentos, no setor, são as cooperativas urbanas, especialmente as cooperativas de trabalho e de transporte. Segundo Ninaut, isso acontece devido ao aumento dos índices de desemprego nas grandes cidades. “O aumento do desemprego e da informalidade faz com que haja mais cooperativas de trabalho. Isto é preocupante, porque elas crescem desordenadamente e fecham na mesma velocidade com que aparecem”, afirma.