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Produtores gaúchos prometem resposta ao “Abril Vermelho”

Em resposta ao “Abril Vermelho”, como ficou conhecida a série de protestos de trabalhadores rurais pela reforma agrária ocorrida ao longo deste mês, 350 produtores filiados a 15 sindicatos rurais do Rio Grande do Sul prometem um “Maio Verde”, na tentativa de evitar a ocupação de mais terras.

Nos últimos 30 dias, cerca de 100 propriedades em 17 Estados brasileiros foram ocupadas por 28 mil famílias.

Para o vice-presidente da Federação dos Agricultores gaúchos, Gedeão Pereira, as ações do MST representam “ódio contra o Rio Grande do Sul verde, que significa alimento, fartura e esperança dos produtores rurais”. A estratégia prevê a montagem de estruturas de monitoramento e observação constante dos acampamentos do MST na região, não apenas neste mês de maio, mas “no tempo que for necessário”. Nos demais estados, os sindicatos dos ruralistas não informaram como será a reação às ocupações de terras.

A expressão “Abril Vermelho” foi cunhada pelo coordenador de um dos principais movimentos de luta pela reforma agrária, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), João Pedro Stédile, para a decisão de “infernizar” o governo a fim de pressioná-lo, com a volta das bandeiras vermelhas às ruas, a cumprir suas promessas em relação à posse da terra.

As maiores ocupações do mês de abril foram registradas em Pernambuco, com o envolvimento de 8.275 famílias, e na Bahia, com 4.360, conforme dados divulgados pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo. Essa entidade congrega mais de 40 representações de movimentos que lutam pela causa, com destaque para a Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Desafio

O secretário-executivo do fórum, Gilberto Portes de Oliveira, e o presidente da CPT, Dom Tomás Balduíno, não pretendem ficar indiferentes caso as ameaças dos produtores rurais se concretizem. “Nós os desafiamos: vão para a rua e mostrem a cara, para que a sociedade veja quem são os responsáveis pelos assassinatos no campo, pelo trabalho escravo e pela violência generalizada no país”, afirma Oliveira.

Aos 81 anos, o ex-bispo de Goiás Velho (GO) recomenda que os sem-terra denunciem as possíveis agressões dos produtores rurais e notifiquem o Ministério da Justiça sobre a formação de milícias e a existência de estoques de armas nas propriedades. “O criminoso quer a sombra, quer esconderijo para poder agir. E como o sem-terra vai enfrentar uma metralhadora? Com estilingue?” Sobre o “maio verde”, ironiza: “São as cercas vivas postadas ao redor dos lafifúndios, vivas de pistoleiros e jagunços armados até os dentes.”

No entanto, na opinião do deputado federal Abelardo Lupion (PFL-PR), ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), “não há necessidade de ir para a clandestinidade e para a marginalidade, como eles querem – vamos buscar os nossos direitos na Justiça e não podemos dar o mau exemplo, entrar no jogo deles”. Mas o Maio Verde já tem ações definidas. Começará no dia 18 em São Grabriel (RS), de onde partirá uma carreata com chegada prevista para o dia 24, em Porto Alegre, depois de passar por diversos municípios gaúchos. Para o dia 25 está marcado ato público em frente à sede da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul.

Confiança

Enquanto se desenrola essa verdadeira queda-de-braço pela posse da terra, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, aposta no cumprimento da meta de assentar 530 mil famílias até o final do governo Lula: “O governo tem um projeto, vem trabalhando metas que resolverão os problemas sociais, darão respostas sociais. Ao mesmo tempo, o país dispõe de leis, de normas e regras, que todos devem aceitar. Nós estamos muito seguros de que alcançaremos as metas do nosso programa, à medida que respondermos às expectativas das pessoas que querem trabalhar, querem produzir. Vamos colaborar na construção de um ambiente de paz para haver justiça social no campo”.

Para o ministro, o governo tem condições e recursos para continuar a implantação do II Plano Nacional de Reforma Agrária, arquitetado durante a campanha eleitoral do presidente Lula. Rossetto afirma, entretanto, que não será aceita “a cobrança por um ambiente autoritário”. E alerta: “O país tem democracia, o país tem instituições sólidas municipais, estaduais e federais capazes de anular qualquer ato de ilegalidade”.