Mercado

Produtores devem ganhar este ano com cogeração, com açúcar e com álcool

Depois de fechar o ano de 2002 com resultados positivos, a fase bons negócios deverá continuar este ano, graças ao cenário internacional favorável às exportações de açúcar, à demanda interna de álcool e à venda do excedente da cogeração de energia. É o caso da Usina Cerradinho, de Catanduva (SP), produtora de açúcar e álcool, e que iniciou a cogeração de energia renovável a partir da queima do bagaço da cana em junho do ano passado. Com o racionamento, decidiu ampliar a cogeração e vender o excedente.

Depois de ter aprovado o projeto na Cetesb e na Aneel, obteve 80% de recursos no BNDES para a compra dos equipamentos (caldeira, turbina e gerador, todos com tecnologia nacional). “Foi o primeiro projeto de biomassa do País financiado pelo BNDES”, conta o gerente financeiro da empresa, José Fernandes Rio. Dos 17,5 megawatts/hora produzidos em 2002, a usina consumiu 4,5 megawatts e vendeu 13 megawatts, segundo Rio, suficientes para atender 60% do consumo anual de uma cidade do porte de Catanduva, com 120 mil habitantes. “A venda rendeu quase R$ 7 milhões.”

Açúcar e álcool – No ano passado, a Cerradinho colheu 2,13 milhões de toneladas de cana – 75% das lavouras da usina e 25% de terceiros -, sendo 55% para a fabricação de açúcar e 45% para a produção de álcool (70 milhões de litros, sendo 5% de álcool neutro, para indústrias de bebidas e perfumes). “Fornecemos álcool para a Natura e a Avon”, divulga Rio. Dos 3,8 milhões de sacas de açúcar produzidas, 60% foram exportadas e 40% vendidas no mercado interno, direto para a indústria. Para fabricar mais açúcar e mais álcool, a usina vai aumentar a moagem para 2,5 milhões de toneladas de cana. “A tendência é bastante positiva, melhor ainda para o álcool.”

Com um faturamento de cerca de R$ 120 milhões em 2002, 20% acima do ano anterior, a usina projeta o mesmo porcentual de crescimento para este ano.

Segundo Rio, a empresa está providenciando o cadastro para certificação internacional da usina para ter o direito de comercializar o crédito carbono.

Proinfa – O setor de cana conta com os recursos do Programa de Incentivo às Fontes de Energia Alternativas (Proinfa), criado no ano passado, pela Lei 10.438, contemplando projetos de energia eólica (vento), biomassa (bagaço de cana, casca de arroz e madeira) e pequenas hidrelétricas. Segundo o consultor de CoGeração de Energia de Cana da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Onório Kitayama, na próxima safra de cana a indústria canavieira deverá produzir 300 megawatts de energia excedente, coincidindo com a entressafra de energia hidrelétrica.

“O suficiente para abastecer 547.500 residências”, ilustra. “Levando em conta uma média de três pessoas por casa, dá para atender 1.642.500 pessoas.”

Para Kitayama, no momento em que o mundo assiste a uma nova crise do petróleo, é preciso entender que a cana produz açúcar, álcool e energia elétrica. “Isso torna o álcool bastante mais competitivo e o País poderá ampliar esse mercado aumentando a área de canavial e a capacidade de co-geração de energia”, explica. “Geração de energia é estratégia para enfrentar a alta do preços do petróleo e uma oportunidade de aproveitar um recurso interno, neutralizando, em parte, os efeitos dessa briga.”

Como as áreas de canaviais de São Paulo estão saturadas, Kitayama sugere a expansão do plantio para o Brasil Central. Conforme explica, com a abertura de 15 milhões de hectares de cana – 13% dos 60 milhões de hectares de terras ociosas – seria possível produzir, entre álcool e energia elétrica, o equivalente a 6 milhões de barris de petróleo/dia, ante um consumo atual de 1,8 milhão de barris diários de petróleo. A produção brasileira de álcool corresponde a 220 mil barris de petróleo. (O Estado de S. Paulo)