A União Européia (UE), por meio da Política Agrícola Comum (PAC), outorga a cada ano para os produtores agrícolas cerca de € 43 bilhões (US$ 51,46 bilhões), ou 42% do orçamento comunitário. Essa generosidade não se traduz em um gesto para desembaraçar as negociações da Rodada de Doha, criticam os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, e os Estados Unidos.
Em Hong Kong, sede da conferência ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC) nesta semana, a UE será submetida a um forte fogo cruzado dos seus sócios comerciais por não querer derrubar as barreiras que impedem os exportadores agrícolas do terceiro mundo ter livre acesso ao apetitoso mercado europeu.
Embora a oferta apresentada pelo comissário da UE, Peter Mandelson, de reduzir entre 35% e 60%, segundo categorias de produtos, as tarifas para a conclusão da Rodada de Doha – de uma média de 46%, deparou-se com as críticas, por motivos diversos, do principal produtor agrícola da Europa: a França. Com US$ 11,27 bilhões em subvenções, os agricultores franceses são os principais beneficiários da PAC.
Em 2002, o presidente francês, Jacques Chirac, conseguiu manter as ajudas comunitárias à agricultura, que representa só 2% da força de trabalho européia, em seu nível atual, de US$ 51,46 bilhões até 2013.
É certo que o PAC não é o único obstáculo nas negociações da reunião, também encalhada nas tarifas sobre os produtos industriais e sobre o comércio de serviços. Mas não são só os países em desenvolvimento que penam para vender seus produtos à Europa que criticam a PAC. Os pequenos agricultores europeus acham injusto que cerca de 80% dos subsídios sejam destinados a 20% dos agricultores, em geral os gigantes do agronegócio e os ricos proprietários de terras. Por setores, na França os cereais são os mais privilegiados, seguidos pela carne e a pecuária, o leite, o açúcar, as frutas, verduras e os vinhos. Com 32,3 milhões de hectares cultivados e uma produção agrícola estimada em US$ 76 bilhões, a França representa 23% da produção agrícola européia, segundo a Eurostat.