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Produto reduz o uso de fertilizantes na produção de cana

Depois de vinte e cinco anos de pesquisas, cientistas da Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ) desenvolveram um inoculante a base de bactérias fixadoras de nitrogênio, que aplicado na cana-de-açúcar promove o crescimento da planta sem o uso de fertilizante nitrogenado. O produto pode significar além de uma redução de custos, um ganho ambiental, já que deixarão de ser aplicados de pelo menos 30 quilos de nitrogênio por hectare ano na cana-planta. Segundo os pesquisadores que trabalharam no desenvolvimento do inoculante, o produto deve estar disponível no mercado dentro de dois anos.

Com uma produção que chega a 426 milhões de toneladas por ano, o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. A área plantada atinge mais de 6 milhões de hectares. De acordo com a pesquisadora Veronica Massena Reis, a utilização desta tecnologia tem como principal impacto a substituição de nitrogênio na cana de primeiro ano. Renovando anualmente 20% da área total de cana plantada no país, teríamos 1,2 milhão hectare. Se a dose aplicada for de 30 quilos de nitrogênio por hectare (a dose mínima), teríamos uma economia de 50 mil toneladas de fertilizante nitrogenado por ano, sem decréscimo de produtividade.

Bactérias selecionadas em laboratório

O inoculante para a cana é uma mistura de estirpes de cinco espécies de bactérias isoladas da cana-de-açúcar (Gluconacetobacter diazotrophicus, Herbaspirillum seropedicae, Herbaspirillum rubrisubalbicans, Azospirillum amazonense e Burkholderia tropica) nos laboratórios da Embrapa Agrobiologia. O produto é obtido através do crescimento das cinco estirpes em meio de cultivo, de forma individualizada. A seguir cada estirpe é misturada em turfa estéril e distribuída em sacos plásticos de 250 gramas. O produto contém 1250 gramas, equivalente a cinco pacotes de turfa contendo o inoculante microbiano, que é misturado a 100 litros de água por ocasião do plantio.

A utilização do inoculante é simples e de baixo custo. Os colmos, contando três gemas, são mergulhados na mistura de água e inoculante por um período de uma hora e a seguir são plantados. Cada dose do inoculante deve custar de 15 a 25 reais.

Apesar do inoculante já estar pronto, ele só deve chegar as mãos dos produtores dentro de dois anos. O próximo caminho será a transferência da tecnologia para as indústrias de inoculante que tiverem interesse em desenvolver o produto comercialmente. E como este é o primeiro inoculante para gramíneas (cana-de-açúcar, milho, arroz, etc) desenvolvido no país, ainda não há uma legislação própria para o controle da qualidade destes produtos.