Para queimar estoques de biomassa já acumulados e também gerar receita adicional, as usinas de cana-de-açúcar mantiveram as caldeiras ligadas a todo vapor no primeiro trimestre deste ano e produziram mais eletricidade. Conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) compilados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entre janeiro e março deste ano foram exportados ao sistema interligado nacional 1,347 mil gigawatt-hora (GWh) de energia de biomassa, um crescimento de 34% frente ao mesmo intervalo do ano passado.
Zilmar de Souza, consultor de bioeletricidade da Unica, diz que, em 2014, quando os preços do megawatt-hora (MWh) superaram R$ 800, houve uma corrida das usinas por aquisição de outras biomassas para complementar a oferta do bagaço – subproduto da moagem da cana e matéria-prima usual da cogeração. As indústrias compraram cavaco de madeira, poda de árvores, além de terem feito um esforço para recolher o máximo possível de palha de cana do campo, a fim de maximizar a produção de eletricidade.
Mas, em dezembro, o governo federal anunciou que, em 2015, seria reduzido à metade o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que é usado como referência no mercado livre de energia. A medida reduziu o estímulo econômico da cogeração com matéria-prima de terceiros, mas o que já estava em estoque foi para as caldeiras no primeiro trimestre e virou eletricidade.
“O volume produzido entre janeiro e março foi suficiente para abastecer por um ano mais de 700 mil residências”, calcula Souza. Em tempos de escassez hídrica, o especialista faz questão de registrar que também significou uma economia de 1% da água dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste.
Em janeiro, a cogeração cresceu 77%, para 498 mil GWh, na comparação com igual mês de 2014. Em fevereiro, o aumento foi de 37,8%, para 331 mil GWh e, em março, cresceu 7,2%, para 518 mil GWh. “No último mês do primeiro trimestre, o estoque de biomassa estava no fim, por isso, o crescimento mensal menor. Muitas usinas pararam para manutenção e outras, retomaram a moagem da nova safra”, explica Souza.
Para o mês de abril, ele não espera aumentos expressivos na cogeração, uma vez que os estoques de biomassa já acabaram. A expectativa é de, no mínimo, manter os mesmos níveis de produção de abril de 2014, quando foram exportados 1,212 mil GWh de eletricidade de biomassa.
Para o ano todo, o volume exportado deve crescer, apesar de em níveis abaixo do ocorrido no primeiro trimestre. A venda de energia feita há alguns anos nos leilões do mercado regulado deve significar a entrada em operação de uma capacidade adicional de produção de energia de biomassa de 123 GWh, o equivalente a um crescimento de 6% frente ao volume vendido em 2014 (20,8 mil GWh). Nas contas de Souza, se for incluído nessa conta o aumento de capacidade para atender ao mercado livre, essa expansão vai a 9% em 2015.
Esse crescimento poderia ser muito maior não fosse a redução pelo governo do teto do PLD a R$ 388 o MWh, ante o valor de R$ 861 previsto para 2015, diz Souza. “Em torno de 60% da energia de biomassa vendida no país é negociada no mercado regulado, via leilões da Agência Nacional de Energia (Aneel). No entanto, a venda no mercado livre foi muito importante no ano passado para as usinas. Continuará relevante, mas cairá à metade”, diz Souza.
(Fonte: Valor Econômico)