Mercado

Produção agrícola pode dobrar em dez anos

A produção agrícola brasileira tem potencial para dobrar no prazo de dez anos, disse Luís Hafers, fazendeiro e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, em palestra a cerca de 70 trainees da Amcham-SP, unidades regionais e Câmara Americana de Comércio da Bahia. O relato é da Amcham Uptdate. Para gerar novos mercados que absorvam esse crescimento, Hafers defendeu a participação ativa do Brasil nas três principais negociações em curso – Alca, OMC e com a União Européia – , destacando que as decisões tomadas nesses fóruns começarão a ter impacto no Brasil no momento em que os trainees iniciarão suas carreiras profissionais.

Para Hafers, o Brasil deve debater os termos de acordo para a criação da Alca defendendo “seus interesses, e não seus ressentimentos”. De forma didática, analisou que a criação de novos acordos internacionais de comércio se faz no momento em que as regras comerciais vigentes sofrem um esgotamento. “Os tratados são importantes, pois tensões não-resolvidas podem levar a rupturas”, disse, lembrando que conflitos comerciais foram muitas vezes o estopim de guerras e revoluções.

Diferentemente do que aconteceu em tratados anteriores, “em que o segmento agrícola era desconsiderado”, Hafers elogiou a participação dos empresários de seu setor no debate de acordos internacionais de comércio. “Antes, o setor era passivo, tinha a visão de que o governo resolveria tudo”, disse. Classificou como “injustos, imorais e desleais” os subsídios e barreiras tarifárias e não-tarifárias aplicadas pelos países desenvolvidos aos produtos agrícolas, indicando o forte componente político que ainda sustenta essa prática.

Para Hafers, os Estados Unidos não definirão nenhuma concessão na área agrícola dentro da Alca enquanto não fizerem um ajuste no âmbito da OMC. “Sem isso, eles estarão correndo o risco de ver a União Européia brigar pelas mesmas concessões”, avaliou. No campo da União Européia, Hafers acredita que os subsídios agrícolas não terão vida longa e deverão “estourar” por falta de recursos.

Investimentos, compras governamentais e serviços foram levantados por Hafers como setores delicados, que devem ser tratados com cuidado “mas sem cair no protecionismo”, para que o acordo possibilite que o País “caminhe para a modernidade”.

Para o fazendeiro, o governo deve ter pulso firme nas relações de comércio internacional. “O Brasil deve ser respeitado, temido se necessário e odiado se indispensável”, afirmou. Hafers criticou a posição dos EUA de fechar acordos bilaterais “com o objetivo de minar a capacidade de negociação do Brasil”. Para ele, a Argentina passou a ver o Brasil como aliado e descobriu que “é melhor ser parceiro do Brasil do que ser tutelado pelos EUA”. Para ele, a atitude do Chile – que fechou um acordo bilateral com os EUA em dezembro passado – revela que o país andino “ainda não tem bem definido o que deseja para si”.

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