O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, disse ontem, após audiência no Palácio do Planalto, que os acordos bilaterais não podem prescindir de uma negociação comercial mais ampla entre os países. A declaração de Prodi, feita após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, coincide com a preocupação do comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson. Em entrevista ao Valor, Mandelson criticou acordos industriais setoriais entre o Brasil e os Estados Unidos.
Para Prodi, essa postura bilateral trará prejuízos a longo prazo. “Eles são úteis, mas, com o passar do tempo, tendem a fortalecer blocos comerciais específicos, isolando países africanos e latino-americanos que não se enquadram em nenhum cenário”, defendeu o primeiro-ministro italiano.
Prodi também lembrou que, desde os seus tempos de presidente da União Européia, buscou mecanismos para reduzir os subsídios agrícolas e facilitar o acesso as mercados. “É preciso muito empenho para o sucesso da Rodada Doha”, disse Em seu discurso, o presidente Lula reiterou a parceria entre Brasil e Itália para assegurar o êxito nas negociações comerciais. “Temos de corrigir as injustiças de um modelo de liberalização comercial que ainda não trouxe benefícios, tantas vezes prometidos, para a maioria dos membros da Organização Mundial do Comércio”, acrescentou o presidente.
No encontro entre Lula e Prodi foram assinados dois memorandos de entendimento. O primeiro estabelece uma parceria entre a Petrobras e a italiana Eni para o desenvolvimento conjunto de novas tecnologias para a produção de biocombustíveis. “Eu acho que Brasil e Itália podem fazer uma parceria extraordinária, que pode ajudar o mundo a ser menos poluído nesses próximos 20 anos, com a parceria na área de biodiesel”, defendeu o presidente brasileiro. Prodi confirmou a disposição italiana de desenvolver uma cooperação tecnológica no setor de biocombustíveis.
O segundo memorando assinado ontem prevê “a realização de atividades de cooperação com terceiros países”. Na prática, significa parcerias para desenvolver projetos em países africanos e latino-americanos, incorporando-os, sobretudo, à produção do biodiesel. “Queremos promover projetos trilaterais que incorporem países mais pobres à revolução do etanol e do biodiesel. Ao ajudar a expandir o cultivo da cana e de outras biomassas tropicais nesses países, Itália e Brasil estarão contribuindo para combater a fome e a pobreza. Teremos mais empregos, mais proteção da natureza, maior diversificação das atividades agrícolas e industriais”, destacou Lula.