Lobista americano afirma que mercado será mais aberto e competitivo
A elite dos grandes do setor marcou presença no “Sugar Week”, realizado de 8 a 12 de maio, no salão nobre do Waldorf Astoria Hotel, em Nova York. Ali aconteceu o evento principal da semana, o “Sugar Dinner”, jantar de gala que vem sendo celebrado ininterruptamente há 58 anos, organizado pelo Sugar Club (cujo atual presidente, por sinal -Luther Markwart-, não é do setor da cana-de-açúcar, mas Vice-Presidente Executivo da Associação Americana de Produtores de Beterraba). Dada a posição atual de destaque do Brasil no universo do açúcar, coube a um brasileiro (Eduardo Pereira de Carvalho) proferir a Palestra de Orador Convidado perante um público de mais de mil pessoas.
Dentre os temas debatidos, a questão da tarifa protecionista de US$ 0,54 por galão imposta à importação do etanol por parte dos Estados Unidos recebeu atenção especial. Diante da constatação de que os produtores americanos de milho e os representantes dos “Farm states” no Congreso farão o impossível para preservar a tarifa, o JornalCana entrevistou E. Linwood Tipton, prestigioso lobista americano, fundador e ex-Chairman da International Dairy Foods Association – IDFA, reconhecido como um dos mais influentes lobistas do setor de agronegócios americano. Ele falou sobre este assunto e abordou as tendências mundiais do mercado de açúcar e álcool, confira:
JornalCana – Existe a intenção americana de gradativamente começar a produzir etanol a partir da cana de açúcar, e se assim for, em quanto tempo?
E. Linwood Tipton – Neste momento, os dois temas políticos mais
quentes nos Estados Unidos são os imigrantes ilegais do México e os preços da gasolina. Ambos são polarizantes e ambos devem ter impacto nas eleições de Novembro de 2006. O incremento na produção de
combustíveis alternativos deve provavelmente ser parte das modificações à política energética americana. Isto certamente incluirá
maiores subsídios à produção de álcool de milho, e provavelmente incluirá incentivos para utilizar outros cultivos como a cana-de-açúcar e a beterraba. Durante uma recente audiência perante o Comitê de Agricultura, Nutrição e Florestas, a idéia de utilizar a cana de açúcar e a beterraba para produzir etanol recebeu muita atenção, com vários senadores aparentemente favoráveis a esta política; e J.B. Penn, Sub-Secretário de Agricultura, encorajou aprofundar o estudo desta opção. Ele indicou que a USDA (o Departamento Americano de Agricultura) estava estudando tal idéia, e que os resultados preliminares pareciam sustentar sua viabilidade econômica.
Como a indústria açucareira americana responderá ao aumento na demanda global, às conseqüentes altas de preços e às mudanças impostas ao programa açucareiro da União Européia?
Não tenho a menor dúvida que a indústria açucareira americana utilizará todo o poderio político ao seu alcance para captar e guardar para si as prováveis margens maiores resultantes de uma forte demanda e uma menor oferta. Mas, isto dito, eu acho muito provável que as políticas dos Estados Unidos se distanciarão das práticas protecionistas passadas, rumo a um mercado mais aberto e competitivo. Existe uma confluência de forças impossível de parar, que resultará em mudanças. O processo de mudança no mercado mundial é irreversível.
O Presidente Bush olhará favoravelmente na proposta de seu irmão Jeb Bush, e reduzir a tarifa de US$0,54 por galão no álcool importado?
Não! Com as eleições para o Congresso neste outono, e com os potenciais bcandidatos para a eleição de 2008 elogiando já a ossibilidade de subsídios adicionais para a produção de álcool de milho no estado de Iowa, são poucas as chances de redução na tarifa do álcool importado. Como você deve saber, Iowa tem um papel altamente influente na nominação do candidato Presidencial, porque ali acontece a primeira disputa estadual que ajudará a definir os candidatos dos partidos.
No 22º Simpósio Anual Internacional de Adoçantes, em agosto do ano passado, patrocinado pela American Sugar Alliance, foram ventiladas preocupações de que o Brasil estaria escondendo-se detrás do seu status de “nação em desenvolvimento” na OMC para evitar fazer o mesmo tipo de reformas exigidas dos Estados Unidos, Europa, e outras nações desenvolvidas. Chegou-se a manifestar que “os subsídios brasileiros são difíceis de identificar, porque o Brasil tende a escondê-los do exame minucioso da OMC”. Qual é a sua opinião a respeito?
Tenho observado nas organizações de produtores de cana-de-açúcar e beterraba dos Estados Unidos, uma tendência a acusar os outros de fazer coisas erradas para desviar a atenção das próprias transgressões. Eles têm dito freqüentemente que favoreceriam o comércio livre do açúcar se todos os outros paises eliminaram suas barreiras, mesmo sabendo que nunca haverá um comércio livre total. Não estou informado sobre o tipo de subsídios escondidos que Brasil possa ter implementado, caso haja algum, mas conheço o tipo e a magnitude dos subsídios nos Estados Unidos, e ele não podem ser justificados de modo algum.
A American Sugar Alliance afirma com freqüência que o programa açucareiro dos Estados Unidos não custa nada aos contribuintes americanos. Se bem é verdade que na maioria dos anos não há dotação orçamentária, embora freqüentemente hajam dotações orçamentárias federais, além do qual todos os anos os cidadãos americanos e contribuintes são obrigados a pagar preços mais altos do que deveriam pelo açúcar que consumem, simplesmente pelo fato de ter políticas protecionistas incorporadas na legislação açucareira atual. A política açucareira dos Estados Unidos impõe custos consideráveis aos
consumidores de açúcar e produtos adoçados.