O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, admitiu na quarta-feira que o Brasil terá problemas com a produção de etanol. Finalmente ele, e todo o governo, parecem ter aceitado o fato de que o quadro da produção de cana-de-açúcar no País vem se agravando desde 2007, e os preços recebidos pelo produtor seguem abaixo dos custos. A equação é bem clara: quando não há equilíbrio nas contas, as dificuldades de investimento na produção aumentam e a produção cai.
A queda da produtividade também vem se tornando evidente nas plantações pelo Brasil. Tudo isso, somado a eventos climáticos adversos, como chuvas na área de produção, e ao crescimento da demanda, em função do aumento das vendas de carros flex, só piorou o quadro a que estamos assistindo hoje.
Especialistas do setor já vinham alertando de que a recuperação só começaria a partir de 2012, porque a natureza tem seu preço. Leva tempo recuperar uma lavoura de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol.
Os produtores já começaram os trabalhos, mas ainda não foi suficiente para dar resultados. Além disso, muitos produtores ainda estão descapitalizados. Por isso, há necessidade de políticas públicas mais claras para este setor.
Fala-se em incentivo aos estoques, mas fica difícil quando não se tem o que estocar. Claro que não vai faltar etanol, mas a realidade é que os preços não vão baixar tão rapidamente quanto se gostaria.
Isso nos lembra quando autoridades se movimentavam no sentido de exigir que os EUA retirassem os subsídios do álcool feito de milho, propagando-se a todos os cantos as maravilhas do combustível vindo da cana. É impossível imaginar o que teria acontecido se o restante do mundo tivesse mesmo admitido que nós poderíamos ser o grande fornecedor quando o produto não é suficiente nem no mercado nacional.
E ainda bem que o consumidor brasileiro vê no etanol apenas uma forma de economia, não um artifício de proteção ambiental. Se houvesse consciência, a demanda poderia ser mais forte. O que se vê, porém, é que o Brasil ainda precisa caminhar muito no que diz respeito a planejamento. O atraso das obras para Copa e Olimpíadas é bom exemplo disso. Mas essa é outra conversa.