Prossegue a falta de planejamento de médio e longo prazos sobre suprimento de energia elétrica, cujo setor emite indícios de desabastecimento com a previsão de prejuízos incalculáveis à economia nacional. Da crise do apagão em 2001, restou apenas a instalação de uma rede de usinas termelétricas, para abastecimento emergencial, além do hábito da população de reduzir o consumo.
Neste início de ano, acentua-se o quadro de redução no nível de água acumulada nos reservatórios do Nordeste (27,1%) e, do Sudeste – a área de maior consumo -, onde há apenas 44,7% de disponibilidade de recursos hídricos para geração de energia. Para evitar o colapso, o governo está transferindo energia do Norte para o Nordeste e do Sul para o Sudeste.
O modelo energético nacional se baseia em 70% gerados nas hidrelétricas; 10% a gás; 7,5% importados; 4% no petróleo; 3,7% na biomassa; 1,8% na energia nuclear; 1,7% no carvão; e 0,23% na energia eólica. No Sudeste, onde se localizam as principais hidrelétricas, as chuvas, em janeiro, estão 47% abaixo da média dos últimos 76 anos. No Sudeste e no Centro-Oeste, a recarga dos reservatórios se processa entre outubro e março.
Em 2007, ocorreu atraso no ciclo das chuvas. Entretanto, houve recuperação dos estoques, mas sem alcançar os níveis ideais de reserva. Ainda assim, as chuvas retardadas asseguraram o suprimento. Os meteorologistas prevêem, para o Sudeste, antecipação em duas semanas da estação das chuvas, e índices abaixo do normal, especialmente na região Sul e na bacia do Rio São Francisco.
Este cenário pessimista levou o diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, a defender um plano de racionamento de energia em 2008, caso se prolongue até abril o baixíssimo nível pluviométrico da estação. Como o Nordeste vem também de uma seca prolongada de dez meses, o prenúncio de apagão mobilizou todos os órgãos envolvidos com o mercado energético para se chegar a um prognóstico.
Até então, o Ministério das Minas e Energia considerava a situação dos reservatórios das hidrelétricas não alarmantes, descartando o racionamento em 2008 e 2009. Diante do desencontro de informações, e da expectativa negativa entre o empresariado dependente deste insumo essencial, o Operador Nacional do Sistema Elétrico está usando 4,5 mil megawatts (MW) das usinas termelétricas disponíveis. Em plena carga, elas produzem 12 mil megawatts.
A crise de 2001 permitiu ao País interligar seus sistemas energéticos regionais, com facilidade de redistribuição de energia das áreas disponíveis para as regiões carentes. As usinas termelétricas, na ausência de gás natural, estão operando com óleo diesel, a custo maior do megawatt/hora (MWh). A conseqüência será transferir o ônus da operação para o consumidor.
No Nordeste, o equacionamento definitivo do problema estaria na exploração, em larga escala, de seus potenciais de energia solar e eólica. As iniciativas governamentais e privadas na área ainda são tímidas diante da riqueza energética dessas fontes. (Editorial)