Alarmismo ambiental abre espaço para o biocombustíveis no encontro dos países ricos, mas os avanços ainda são tímidos
A aprazível Heiligendamm, na Alemanha, parecia o local ideal para um encontro do G-8, clube dos países ricos, que teria como foco a questão ambiental. O Brasil, pela primeira vez, participava não apenas como espectador, mas como porta-voz das nações em desenvolvimento e chegou querendo mostrar que o programa de etanol é mais do que uma nova matriz energética. O presidente Lula, assim que desembarcou na Alemanha, na quarta-feira 6, tratou de vender a idéia de que o álcool é uma das principais alternativas para limitar as emissões de gases causadores do efeito estufa. Lula ganhou o apoio do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, e do presidente mexicano, Felipe Calderón. Mas na abertura da cúpula, a chanceler alemã Angela Merkel deu o tom pessimista e anunciou que a discussão ficará para o encontro sobre mudanças climáticas em Bali, na Indonésia, em dezembro. “Sabemos que as metas européias de redução de emissões não serão seguidas pelo resto do mundo”, afirmou.
O principal empecilho, mais uma vez, foram os Estados Unidos. “O G-8 não deve ditar as políticas dos países membros”, sentenciou o presidente George W. Bush, propondo que o Protocolo de Kyoto, que vence em 2012, seja reescrito. O primeiro a se pronunciar contra a rejeição americana foi o presidente Lula. “Não posso aceitar a idéia de que temos de criar outro grupo para discutir assuntos que já discutimos e não foram cumpridos”, disse o presidente. O desabafo de Lula é explicável. Mesmo com um memorando de entendimento sobre etanol com os EUA, o que poderia sinalizar uma abertura de mercado, o presidente foi surpreendido pela posição conjunta do G-8 em barrar maiores pretensões do governo brasileiro. Num comunicado prévio, o grupo queria “evitar um possível efeito negativo no desenvolvimento do bioc o m b u s t i – vel”. Era um recado contra a forma de trabalho empregada nas lavouras e a ameaça da utilização do plantio da cana em detrimento de outras formas de cultivo, voltadas para a alimentação. A Alemanha também apresentou uma moção para que não se fizesse menção específica ao etanol porque a indústria automobilística do país não demonstra entusiasmo pelo produto. Ou seja: mais uma vez, os líderes dos países ricos não saíram da retórica.