O governo brasileiro e o setor privado estão em alerta diante da possibilidade de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor tarifas a produtos como aço e pressionar pela abertura do mercado de etanol do Brasil ao biocombustível americano.
A expectativa é a de que as medidas, que podem ser anunciadas nos próximos dias, desencadeiem uma nova tensão comercial entre os dois países, com o Brasil já preparando listas de retaliação.
Etanol: tarifas de importação
Na primeira gestão de Trump, o Brasil baixou para zero a alíquota de importação sobre etanol, beneficiando o biocombustível produzido nos Estados Unidos a partir do milho. As tarifas voltaram ao patamar de 18% em 2023.
Agora, com Trump de volta à Casa Branca, há temores de que a pressão para eliminar essa barreira se intensifique, beneficiando estados do “Corn Belt” (Cinturão do Milho), como Iowa, Nebraska e Kansas, bases eleitorais republicanas.
Trump: expectativas brasileiras
Segundo autoridades brasileiras, a Casa Branca pode vincular o tema a concessões comerciais, mas o governo planeja contrapor exigindo maior acesso ao mercado americano para açúcar e carne bovina – setores historicamente protegidos pelos EUA.
“Não faz sentido reduzir a tarifa do etanol enquanto os EUA mantêm barreiras proibitivas ao nosso açúcar”, afirmou recentemente Evandro Gussi, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia).
Mistura de etanol e descarbonização
Enquanto negocia, o Brasil busca fortalecer o mercado interno. Uma das apostas é elevar a mistura de etanol anidro na gasolina de 27% para 30%, medida prevista na Lei do Combustível do Futuro.
A mudança, em análise técnica com montadoras, geraria demanda adicional de até 1,4 bilhão de litros por ano, reduzindo a vulnerabilidade a pressões externas.
Além disso, o país reforça seu discurso ambiental: o etanol brasileiro emite até 90% menos CO₂ que o combustível fóssil, contra 40% do etanol de milho americano.