Mesmo sem nada de concreto nas mãos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem ao Brasil, depois de encontro com o presidente norte-americano, George W. Bush, em Washington, com a esperança de estar chegando próximo a um acordo em relação à Rodada de Doha.
“Saio daqui falando que nunca estive, em nenhum momento, tão otimista de que estamos perto de fazer um acordo para a Rodada de Doha. Temos urgência de um acordo ambicioso e equilibrado. E os Estados Unidos sabem disso”, discursou Lula, o primeiro presidente latino-americano a ser recebido por Bush em Camp David, residência de campo do presidente norte-americano.
A visita é fruto de uma aproximação entre os países, iniciada em São Paulo, no dia 9 de março, quando Bush esteve no Brasil.
Durante a entrevista, o presidente Bush concordou com Lula e disse estar confiante nos avanços nas conversações. Contudo, lembrou que, para a rodada avançar, é necessário que alguns países abram seus setores de serviços e de manufatura aos Estados Unidos, e não apenas que os norte-americanos reduzam seus subsídios agrícolas.
“Tenho certeza de que, para aliviar a pobreza do mundo, a solução é o comércio”, disse Bush.
A recusa de alguns países dos EUA e União Européia em rever os subsídios agrícolas tem impedindo a conclusão rodada. Além da resistência de líderes de governo, a questão encontra também resistência na população. Uma pesquisa feita pela Comissão Européia revelou que 60% dos cidadãos dos 27 países do bloco defendem a manutenção dos altos subsídios ou mesmo um aumento da ajuda estatal. Em 2006, a UE destinou quase 55 bilhões de euros à agricultura.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que as discussões técnicas da Rodada de Doha chegaram quase ao limite e agora é preciso uma decisão dos líderes políticos dos 150 países envolvidos.
Avanço no etanol
Outro tema do encontro foi o etanol. A visita do presidente Lula é parte de um processo de negociação entre Brasil e Estados Unidos para os americanos reduzam a tarifa cobrada sobre o álcool brasileiro. O presidente Bush, ainda em território brasileiro, havia afirmado que um ajuste nessas tarifas não aconteceria antes de 2009.
No entanto, na declaração conjunta veiculada após a conferência, os dois mandatários mencionam avanços na discussão sobre o álcool brasileiro, mas aparentemente restritos ao âmbito de cooperação técnica entre os dois países.
“Se alguém perguntar para mim: o que você está levando para o Brasil? Certamente, eu direi: nada. Agora, certamente, os acordos que nós assinamos hoje e os acordos que poderemos assinar daqui para adiante podem garantir, definitivamente, que as relações entre os Estados Unidos e o Brasil não só são necessárias, mas são estratégicas”, afirmou o presidente Lula. Lula e Bush assinaram também acordos para melhorar a qualidade de vida e a democracia no Haiti e em países pobres da África, como São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau.
Bush disse apreciar a liderança brasileira no país caribenho e nas Nações Unidas, garantindo que os EUA irão colaborar para o desenvolvimento do Haiti. A ajuda norte-americana em projetos para a infra-estrutura do Haiti era uma das requisições de Lula a Bush no encontro.
Reunião na Índia
Os quatro principais atores das negociações da Organização Mundial do Comércio (Brasil, Índia, EUA e União Européia) poderão se encontrar em meados deste mês em Nova Délhi para tentar fechar um acordo agrícola, informaram fontes em Genebra.
Após cinco anos de conversas, o comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, a representante americana para o Comércio, Susan Schwab, e o ministro brasileiro dos Assuntos Estrangeiros, Celso Amorim, devem encontrar o ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, para uma série de reuniões bilaterais ou a quatro por volta de 11 de abril, segundo estas fontes. Os ministros do Japão e da Austrália poderão encontrá-los em seguida.
Uma semana antes, especialistas das quatro potências comerciais devem se encontrar em Paris, indicaram diplomatas.
Após seis meses de suspensão, os 150 países-membros da OMC relançaram em janeiro negociações com a esperança de assumir um compromisso antes do fim de junho. As negociações na OMC estão paradas há cinco anos por controvérsias relacionadas a questões agrícolas.