Para a Bolívia, o sentimento imperialista faz mais sentido se dirigido contra o Brasil que contra os EUA. Primeiro pela questão histórica – e todo o ressentimento gerado pela perda do Acre. Depois, porque a presença econômica do Brasil na região é arrebatadora: investimentos brasileiros representam 18% do PIB boliviano e só a Petrobrás é responsável por 30% da arrecadação do governo.
Para diplomatas, embora Evo Morales não seja “antibrasileiro”, há correntes de linha dura em sua gestão e nos movimentos sociais que vêem o Brasil como ameaça. Políticos que concordam com a tese ajudaram a aprofundar ação de nacionalização do setor de gás e petróleo – como o ex-ministro dos Hidrocarbonetos Andrés Soliz Rada.
A população vê com bons olhos a tentativa de submeter empresários estrangeiros e a Petrobrás, mas não tem arraigado sentimento antibrasileiro. “Os bolivianos em geral ainda simpatizam com os brasileiros, até mais que com os venezuelanos, apesar de o presidente Hugo Chávez estar se esforçando tanto para ampliar sua influência ”, diz o analista político boliviano Carlos Cordero.
Na Venezuela, a ambigüidade que marca as relações entre Chávez e Lula cria situação atípica se considerado o grau de polarização que marca a sociedade desse país: o Brasil é visto com bons olhos tanto pelos chavistas quanto pela oposição, embora o conflito de interesses no que diz respeito à política para a América Latina já desgaste a relação.
“Há crescente desconfiança mútua”, diz o cientista político Carlos Romero. “O protagonismo de Chávez na nacionalização do setor de gás e petróleo na Bolívia é a prova de que ele está em rota de colisão com o Brasil”, atesta Fernando Gerbase, ex-embaixador da Venezuela no Brasil. “Ainda não podemos falar num sentimento antibrasileiro, até porque aqui o discurso anti-EUA tem mais apelo. Porém, não há dúvida de que Chávez tem projeto hegemônico para assumir a liderança na América Latina.”
Para o cientista político Alberto Garrido, desde a visita de George W. Bush ao Brasil Chávez tenta melhorar alianças com Bolívia, Equador e Argentina. “Para Chávez, nada poderia ser mais inoportuno que aliança baseada no etanol entre Brasil e EUA, seu maior inimigo.”