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Premiê visita a Esalq

Exatamente um dia depois de trocar camisas da seleção de futebol de seu país com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante encontro realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkenende, que hoje estará na sede da Firjan, a entidade que reúne o empresariado carioca, esteve em Piracicaba.

Em visita ontem (3) à tarde na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), onde foi recepcionado pelo diretor da instituição, o professor Roque Dechen, sem contar outros docentes, alunos de graduação e de pós-graduação, o premiê, que esbanjou simplicidade, simpatia e elogios ao Brasil, garantiu que a Nação pode se favorecer dos Países Baixos como porta de entrada para outros destinos europeus.

O Reino dos Países Baixos é uma monarquia constitucional. O Poder Executivo é exercido pelo Conselho de Ministros que, por sua vez, é comandado pelo primeiro-ministro.

A ideia consiste em não exportar apenas produtos primários como etanol (álcool combustível), soja, café e cítricos, mas, também, para elevar as vendas de itens industrializados.

Diplomático, Balkenende, que chegou ao Brasil acompanhado de 70 empresários e acadêmicos holandeses, disse que o etanol de bandeira verde e amarela tem tudo para prosperar, nas próximas décadas, em outras nações europeias.

A maior questão, entretanto, é a garantia da sustentabilidade.

“É a pergunta mais recorrente. Será que a primeira geração dos biocombustíveis não faria uma espécie de concorrência com a produção de alimentos?”, questiona.

O primeiro-ministro lembra que a Europa já sabe da eficácia da mistura do etanol à gasolina. “A sustentabilidade (do álcool ecológico) é vital”, salienta. Na prática, os europeus querem que o Brasil mostre, com fatos e iniciativas, o que vem fazendo para disseminar o etanol sem prejuízo do meio ambiente e tampouco do possível comprometimento da agricultura.

SELO DE QUALIDADE. Embora a Holanda tenha sido o terceiro maior investidor estrangeiro no mercado brasileiro em 2008, com um fluxo de comércio bilateral orçado em R$ 11,9 bilhões, o país dos moinhos, das flores, da tecnologia, da educação, e posicionada como a 16ª maior economia do mundo, não tem planos de comprar álcool se não tiver certeza quanto à procedência do produto.

Até informações sobre a hipotética devastação da Amazônia para o cultivo da cana-de-açúcar são de extrema relevância para os holandeses.

A plantação, a manutenção da mão-de-obra, entre outras preocupações também rondam os investidores e estudiosos do setor. Ninguém quer comprar produtos sem ter um selo de qualidade, especialmente dos biocombustíveis.

De qualquer forma, a Holanda tem muito interesse em estreitar ainda mais os laços com o Brasil.

A vinda de Jan Balkenende a Piracicaba foi muito comemorada pelo professor Roque Dechen e outros líderes esalquianos.

Tanto assim que a passagem pela cidade (veja nesta página) foi considerada o principal momento da viagem do premiê ao Brasil.

A Esalq, considerada a maior universidade de Ciências Agrícolas do Brasil, mantém desde 2004 um convênio alinhavado com a Wageningen University and Research Center, entidade de excelência de ensino e pesquisa da Holanda.

De acordo com Angela Peres, responsável pelo escritório de atividades internacionais da Esalq, os holandeses vêm ao Brasil principalmente para estágios. Por outro lado, sete universitários brasileiros, matriculados na Esalq, estão na Holanda.

Outro edital de seleção será lançado em setembro deste ano. Brasileiros e holandeses ficam em seus destinos por seis meses. Em entrevista coletiva concedida ontem a jornalistas piracicabanos e internacionais, o primeiro-ministro Balkenende disse que a linha de investimentos dos Países Baixos no Brasil é muito superior à demanda prevista para a China. “Acredito que o Brasil tem tudo para ser uma potência mundial”, frisa.

A tecnologia em combustíveis renováveis no Brasil, de acordo com o chanceler, é muito mais avançada que a da Europa.

‘Vocês – disse, numa referência aos experts brasileiros – desenvolvem um papel muito grande também neste segmento”, observa. Bem-humorado, o premiê abriu a palestra, proferida em Inglês, a alunos e professores, mostrando que não há lugar para formalidades em excesso.

Com os termômetros sinalizando mais que 33 graus centígrados, Balkenende e outros holandeses decidiram tirar o paletó. “Assim está bem melhor”, disse, arrancando risos da plateia.

NÃO AO PROTECIONISMO. Na conversa que manteve com o presidente Lula, o primeiro-ministro foi enfático ao defender o fim ou a moderação do protecionismo. Na Fiesp, Lula defendeu a ampliação da concorrência e o livre mercado como formas de defesa contra os efeitos da crise econômica que avassala o mundo.

Cidade terá Centro de Bioenergia

Antes do contato com os universitários e professores, em meio à palestra ministrada no Salão Nobre da Esalq, o primeiro-ministro holandês fez questão de se reunir com especialistas da área de biocombustíveis.

Na opinião do diretor da Escola, o professor Roque Dechen, a oportunidade não poderia ter ocorrido em melhor hora.

“Foi excelente (a conversa). Houve a apresentação oficial do projeto que prevê a criação do Centro de Bioenergia, supervisionado pela Universidade de São Paulo, na Esalq”, reitera.

Dechen explica que o objetivo da existência de mais um núcleo de pesquisa em torno dos combustíveis renováveis – a instituição sedia o Pólo Nacional de Biocombustíveis – é justamente a união de forças. “Será um pool de universidades”, define.

As tratativas para a consolidação do Centro estão adiantadas e devem ser consolidadas ainda em 2009, com recursos oriundos dos governos estadual e federal. Piracicaba representará a USP. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) também comporão o Centro.

O professor Roque Dechen deixa claro que a palavra de otimismo do premiê em relação ao Brasil reforça a tese que diz que, mais do que mostrar o etanol aos mercados estrangeiros, o País tem de fazer a lição de casa. “O entrosamento existe. Precisamos mostrar mais. Temos de confirmar nossas vocações”, revela.

O primeiro-ministro chegou na cidade às 12h45, em uma das quatro aeronaves que pousaram no Aeroporto Pedro Morganti. Seis policiais federais, sendo cinco de Piracicaba e um de São Paulo (SP), o acompanharam.