De carona nos preços elevados das commodities e no crescimento da demanda mundial, o Brasil driblou a queda do dólar e caminha para mais um recorde na balança comercial, contrariando todas as expectativas do início do ano. Com o resultado da primeira quinzena de dezembro, o superávit já está em US$43,407 bilhões, o que deve fazer com que 2006 feche com saldo acima de US$45 bilhões. Ou seja, ligeiramente superior aos US$44,710 bilhões de 2005 e bem maior que o estimado em dezembro do ano passado, quando os especialistas esperavam um saldo de apenas US$36,980 bilhões em 2006. Será o quarto recorde seguido em superávit comercial do Brasil.
As exportações já somam este ano, até agora, US$131,769 bilhões — a meta oficial é chegar a US$135 bilhões — contra US$88,362 bilhões das importações. Para Alexander Xavier, economista-chefe da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o país se beneficiou da alta demanda mundial por alguns produtos, que elevou o preço de commodities como aço, soja e derivados da cana-de-açúcar:
— A demanda internacional está superaquecida. Conseguimos ganhar no aumento de volume, mas a alta foi principalmente em preço — diz.
Com alta das importações, 2007 deve ter superávit menor
Cecília Hoff, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, lembra que o recorde na balança comercial virá acompanhado de maior vulnerabilidade:
— É um cenário completamente diferente de 2004, quanto também comemorávamos recorde. Agora, houve a alta das commodities, o que nos deixa suscetíveis a mudanças no cenário internacional. Além disso, alguns exportadores brasileiros de manufaturados reajustaram seus preços, para compensar a queda do dólar, o que pode levar a perda de competitividade.
O economista-chefe do Banco Pátria de Negócios, Luiz Fernando Lopes, explica que os bons números mascaram esses problemas:
— Se olharmos o volume, as exportações só cresceram 5% e as importações, 14% este ano. Estamos aproveitando a alta das commodities, mas ainda com dificuldades de modificar nossa pauta de exportações.
Ele lembra ainda que mesmo o aumento das importações, necessárias para o crescimento econômico, não é tão positivo. A compra de bens de consumo duráveis (como eletros, brinquedos etc) cresceu 56,9% até outubro, a de matérias-primas, 42,5% e a de bens de capital (máquinas e equipamentos usados pela indústria para ampliar sua capacidade produtiva), 24,5%.
— Cresceu a importação de bens de consumo, que são fabricados também aqui no Brasil, e algumas substituições de máquinas nacionais por importadas — diz.
Para Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o governo poderia reduzir tarifas de importação de máquinas e equipamentos para incentivar os investimentos da indústria:
— De forma ordenada e gradual, isso poderia aumentar a eficiência da nossa indústria, transferindo tecnologia. E, também, de alguma forma, reduzir o saldo comercial e levar a uma alta do dólar.
No conjunto, as importações somam no acumulado do ano US$88,362 bilhões, 24,5% mais que o registrado no mesmo período do ano passado. As exportações cresceram 15,8%, para US$131,769 bilhões.
No ano que vem, segundo projeções da UFRJ, as compras do exterior devem crescer 20%, e as exportações, 7%. Com isso, o saldo comercial ficaria em US$37 bilhões. Cecília Hoff destaca que as importações, até junho deste ano, vinham crescendo a um ritmo de duas a três vezes maior do que a produção da indústria nacional. Mas, nos últimos meses, deram um salto e, agora, sua expansão tem sido cinco vezes superior à da produção doméstica.
— Isso mostra que o aumento das importações está mais associado ao câmbio do que ao dinamismo da economia interna — afirma.
As importações cresceram 28% na primeira quinzena de dezembro, frente ao mesmo período do ano passado. As altas mais expressivas foram algodão (186,6%), aeronaves e peças (106,3%) e automóveis (92,4%). As exportações tiveram avanço de 19,9%, com destaque para suco de laranja (192,9%) açúcar (151,4%), metalúrgicos (50%) e café (49,7%).
Com isso, dezembro contribuiu para o esperado superávit comercial recorde do ano. Nas três primeiras semanas, o saldo ficou em US$2,333 bilhões. As exportações já somam US$6,533 bilhões na primeira quinzena, contra US$4,2 bilhões de importações.