Mercado

Preços do plástico sobem 15% e commodities mantêm-se em alta

Não é só o aço que deve inflacionar os custos de produção das indústrias em janeiro. Os fabricantes de bens duráveis também já foram notificados pelos fornecedores de plásticos que a matéria-prima, atrelada ao petróleo, ficará mais cara em janeiro. A gigante petroquímica do país Braskem confirmou o reajuste. O polietileno, usado em embalagens de alimentos, calçados e frascos, deve subir 12%. Polipropileno, aplicado em componentes automotivos e embalagens para bebidas, deve subir 15%.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Usiminas e Cosipa informaram seus clientes que reajustarão os preços do aço em torno de 15% no início de 2004.

Montadoras, fabricantes de eletrodomésticos e de bens de capital já falam em aumento nos preços para os consumidores, utilizando como justificativa a alta nos insumos.

Ontem a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) informou que os preços dos aparelhos de imagem e som aumentarão entre 6% e 8% . A Ford, que elevará os preços entre 3% e 5% em janeiro só por conta do dissídio dos metalúrgicos de São Paulo, afirmou que o aumento não inclui a alta no custo do aço, que deve resultar em novos reajustes nos preços dos carros.

” Vamos começar o ano com o pé esquerdo. Estamos sendo notificados pelos fornecedores (de aço e plástico) sobre os aumentos nos preços naquela base: cartinha de três linhas e pronto ” , afirma o executivo de uma indústria de eletroeletrônicos. O aço e o plástico são as principais matérias-primas da empresa, respondendo por cerca de 50% das compras. Com os aumentos nos insumos, a indústria calcula que seus custos subirão 12% no mês que vem.

Os fabricantes de resinas no país sentiram o impacto da alta do preço do petróleo no mundo e a conseqüente valorização da nafta, principal matéria-prima da indústria petroquímica. Mas, devido à retração da demanda no mercado brasileiro, não conseguiram repassar o aumento da nafta acumulado ao longo do ano para os seus clientes. As empresas justificam que os preços estão defasados entre 10% e 14%.

O preço da tonelada da nafta é equivalente a cerca de dez vezes o valor do petróleo. A principal matéria-prima da petroquímica alcançou picos acima de US$ 300 no conflito do Iraque e terminou o ano a US$ 275, contra os US$ 223 do ano passado.

A pressão deve se manter também nas commodities metálicas – alumínio, cobre, zinco e níquel – puxadas por forte demanda da China. O zinco passou do patamar de US$ 700 a tonelada para US$ 980. E o níquel teve a maior alta de 14 anos, beirando US$ 13 mil a tonelada. A alta no ano foi de 80%.

Segundo Fabio Silveira, da F Silveira Consultoria, os reajustes do aço e do plástico devem pressionar o Índice de Preços no Atacado (IPA), ” mas nada que coloque (a economia) em risco ” . Na sua avaliação, há uma ” tentativa especulativa de alta dos preços ” por conta das expectativas de retomada da demanda no mercado interno em 2004. Mas o consumo não deve crescer a ponto de sustentar os reajustes.

Segundo a Eletros, além das matérias-primas, como o aço, há outras pressões inflacionárias, como aumento nos custos da energia elétrica e mão-de-obra, em função dos 18% do último dissídio. ” Em 2004, a indústria ainda terá de absorver o impacto do choque fiscal, que elevará fortemente a carga tributária (Cofins, PIS e outras taxas) ” , disse Paulo Saab, presidente da Eletros.

De janeiro de 2002 a outubro de 2003, os preços dos plásticos fornecidos à indústria automobilística subiram 46%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea). Comunicado emitido pela Anfavea ontem afirma que os novos aumentos no preço do aço, a partir de janeiro, ” terão reflexos negativos na competitividade interna e externa da indústria automobilística, além de poder refletir na própria estabilidade da inflação ” .

Segundo o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, o próximo reajuste elevará o preço do produto em 80% no acumulado desde outubro de 2002.

” O aumento do aço vai encarecer o custo das máquinas exportadas ” , diz o presidente da Abimaq, Luiz Carlos Delben. ” As fábricas de máquinas de outros países concorrem conosco importando aço brasileiro ” , acrescenta. Na quarta-feira, a Abimaq encaminhou ao governo pedido de extinção da alíquota do Imposto de Importação para aço, que é de 14%.