Mercado

Preços do açúcar devem continuar superaquecidos

Os preços superaquecidos do açúcar no mercado internacional deverão levar a receita das exportações do setor sucroalcooleiro a ultrapassar os US$ 6 bilhões em 2006. A expectativa dos especialistas é que a cotação média do açúcar se mantenha bem acima da média dos últimos dez anos, de 9 centavos de dólar por libra-peso. Na última quinta-feira, dia 2, os preços futuros na Bolsa de Nova York chegaram a 19,5 centavos de dólar por libra-peso pela primeira vez em 25 anos. Apesar da pressão de alta sobre o açúcar, a perspectiva é de que a proporção de cana destinada à produção de açúcar no Brasil não ultrapasse os 48,5% no ano, contra 51,5% para o álcool.

No ano passado, 47,5% da safra foram destinados à produção de açúcar pelas usinas nacionais, que utilizaram os outros 52,5% na fabricação do etanol. Na avaliação da analista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, a discreta mudança do mix se deve a dois fatores. O primeiro deles é que o álcool também apresenta boa rentabilidade, principalmente no mercado interno, a despeito da interferência do governo federal na formação dos preços.

“O segundo ponto é que o Brasil é o principal produtor mundial de açúcar e sua atuação é determinante para a manutenção dos preços em bom patamar, por isso não acredito que os produtores nacionais queiram derramar açúcar no mercado internacional, o que significa que não deverá faltar álcool para abastecer o mercado interno”, diz. O aumento do consumo de álcool no Brasil e em outros mercados, como a Ásia e os Estados Unidos, corroboram para a escassez e alta dos preços do açúcar.

A analista lembra que o baixo nível dos estoques mundiais de açúcar tem sido um fator de pressão sobre a cotação do produto. Entre a safra 2001/2002 e a safra 2005/2006 houve recuo de 14% nesses estoques, que deverão chegar a 31,5 milhões de toneladas até o meio do ano. Enquanto a produção mundial cresceu 7,5% nesse período, o consumo teve alta de 6,2%, tornando apertada a relação entre oferta e demanda.

“Os estoques são os menores dos últimos oito anos e não devem se recompor. Fontes privadas americanas afirmam que os volumes chegam a 27 milhões de toneladas, abaixo da projeção oficial de 31,5 milhões”, observa o analista da consultoria Agroconsult, Fabio Meneghin. Ele destaca a redução de 20% esperada na produção da Tailândia – que deve cair de 6,6 milhões de toneladas para 2,7 milhões de toneladas em função da seca – e a perspectiva de retirada de 4,3 milhões de toneladas de açúcar da União Européia do mercado, com a adesão à condenação dos subsídios às exportações pela Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo prazo final é 22 de maio deste ano.

Projeção eleva valor do açúcar no mercado mundial

O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre o mercado internacional de açúcar projeta uma elevação de 2,5% – principalmente devido à recuperação da produção da Índia, que deve crescer 30% (4,22 milhões de toneladas). Esse aumento deverá ser quase todo absorvido pela evolução de 1,3% estimada para a demanda, o que significará mais um ano de aperto no balanço de suprimentos do produto e redução do estoque final projetado. Após um ano de alta de 34,7% no preço médio do açúcar – que ficou em 10 centavos de dólar por libra-peso – a Tendências aposta em um preço médio de 13,37 centavos de dólar por libra-peso neste ano.

Ainda é cedo para falar em risco de desabastecimento

Nastari diz que é cedo para falar em risco de desabastecimento de álcool no mercado interno, mas avalia que será preciso acompanhar a trajetória do mix de produção sucroalcooleira ao longo do ano. Em sua análise, os produtores terão que fazer um esforço maior para fabricarem mais álcool, apesar das vantagens do açúcar, bem como reduzir em pelo menos 800 milhões de litros as exportações do produto para manter a oferta no mercado brasileiro. “Esse cenário é possível, mas exigirá um forte autocontrole do setor. Esse será um teste importante para verificar a coesão dos produtores em adotarem uma estratégia coletiva para evitar correções externas”, diz. O diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, acredita que a hipótese de redução das exportações de álcool é a mais provável. “Ela pode cair pela metade. O mercado interno vai estar abastecido em qualquer situação”, garante. A Unica projeta que a participação do açúcar no mix do setor chegará a 48,5% no ano, contra 51,5% do álcool. “Não há nem usinas suficientes para uma migração expressiva da produção de álcool para açúcar. Há uma limitação operacional que não pode ser ignorada”, comenta. A Unica prevê que as exportações de açúcar e álcool ficarão entre US$ 5 e US$ 6 bilhões em 2006.

As exportações de açúcar em janeiro deste ano somaram 1,016 milhão de toneladas, de acordo com levantamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O volume representa recuo de 15,6% em comparação as 1,204 milhão de toneladas de dezembro e de 9,1% em relação a 1,118 milhão de toneladas de janeiro de 2005.

A receita com a venda do produto no mercado externo ficou em US$ 268 milhões FOB, valor 13,1% inferior aos US$ 308,5 milhões do mês anterior, mas 26,2% acima dos US$ 212,4 milhões de janeiro do ano passado. No período de 12 meses (fevereiro/05 a janeiro/06), as exportações brasileiras chegaram a US$ 120,135 bilhões, resultado que, segundo o MDIC, significa a superação da meta, estabelecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de seu mandato, de dobrar as vendas para o exterior entre 2002 e 2006 (US$ 60,3 bilhões no primeiro ano). Em janeiro, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 2,844 bilhões.