Mercado

Preços do açúcar começam a perder fôlego

Os preços do açúcar no mercado internacional apresentaram um forte

recuo no mês de maio, de quase 200 pontos de queda, dando mostras de que o movimento de alta observado nos últimos meses está perdendo o fôlego. “Os fundamentos começaram a mudar”, observou Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento. Os fundos de investimentos estão saindo de suas posições compradas, segundo Fernando Martins, operador da Fimat Futures.

No mercado internacional, os preços futuros da commodity recuaram

quase 15% no mês de maio. Nos últimos 12 meses (até o dia 6 de junho),

contudo, a commodity acumulava valorização de quase 80%.

Segundo Martins Borges, a safra global de açúcar 2005/06 (de outubro a

setembro) mostrou-se equilibrada, com ligeiro déficit mundial, fator que ajudou a sustentar as cotações. Este cenário começa a mudar a partir de 2006/07, com a recuperação da produção dos

países asiáticos, como Índia e Tailândia, e também nova safra recorde no Brasil, conforme o analista. “O clima no sudeste asiático está favorável ao desenvolvimento da cana-de-açúcar”, disse.

Apesar da tendência de equilíbrio de oferta a partir de 2006/07, conta a favor do Brasil o fato de a União Européia (UE) estar reduzindo a partir deste ano sua participação no mercado internacional por conta da reforma açucareira promovida pelo bloco

europeu e também em função da decisão da Organização Mundial do

Comércio (OMC) a favor do Brasil, Austrália e Tailândia. A OMC

determinou que a UE terá de reduzir as exportações de açúcar subsidiadas. A Job acredita que a maior produção de álcool, sobretudo do Brasil, só deverá dar suporte aos preços internacionais do açúcar no longo prazo. “No curto prazo, esse efeito só será sentido no Brasil”, observou. E isto já está ocorrendo na prática no mercado doméstico. Os preços do açúcar no mercado interno mantêm-se

firmes, mesmo com o avanço da colheita de cana-de-açúcar no Centro-

Sul do país. No dia 6 de junho, a saca de 50 quilos fechou a R$ 49,42, em São Paulo, com valorização de 92% sobre o mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento diário do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Segundo Martins Borges, a

expectativa é de que os preços do açúcar continuem firmes no mercado

interno pelo menos até julho, por conta dos compromissos das usinas com as exportações. Desde o início de março, quando a safra de cana começou a ser antecipada, as usinas estão dando prioridade para a produção de álcool para priorizar o abastecimento interno. Fatores macroeconômicos internacionais também pontuam a queda dos preços das commodities agrícolas. Segundo Fernando Martins, da Fimat, há um movimento de fuga por parte dos fundos de investimentos das commodities agrícolas. A expectativa de aumento da taxa básica

de juros americana tem provocado uma migração dos fundos de investimentos em países emergentes para ativos americanos, que oferecem menor risco. O movimento de rolagem de posições dos contratos atuais para meses futuros também tem ajudado a tirar a pressão sobre os preços.

Para José Pessoa de Queiroz Bisneto, presidente do Grupo J. Pessoa,

os preços do açúcar podem voltar aos patamares de 18 centavos de dólar por libra-peso por conta da boa demanda por açúcar no mercado físico internacional. Segundo o empresário, a recente quedas dos preços é pontual. No mercado, contudo, ninguém arrisca a palpitar ainda em quanto os preços do açúcar em Nova York deverão se manter para o segundo semestre.