Mercado

Preço pode contribuir menos em 2007

Quantum exportado pelo Brasil deverá crescer a taxas mais próximas das cotações internacionais. A trajetória de alta das cotações internacionais pode estar batendo no teto e, com isso, a disparidade entre a contribuição do volume exportado e a dos preços internacionais no crescimento das vendas externas brasileiras deve diminuir em 2007. Este ano, esses preços foram os principais responsáveis pela expansão de cerca de 17% das exportações, com alta média de 12%. A elevação tende a se manter ou se acomodar no ano que vem, enquanto a quantidade embarcada deve registrar alta moderada. Além disso, as empresas brasileiras estão cada vez mais imbuídas da cultura exportadora, o que contribui para a expansão das vendas externas.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressalta que 2007 será o quinto ou sexto ano consecutivo de aumento de preços internacionais e que a alta já atingiu o limite, devendo os preços se estabilizar ou apresentar ligeira acomodação. Mais otimista, o economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, aposta em um cenário favorável da economia mundial, que permitirá a continuidade da trajetória de alta dos preços, porém, numa magnitude menor que em 2005 e 2006. “No ano passado e neste a expectativa era de conjuntura de preços nem tanto favorável e fomos surpreendidos positivamente. Já 2007 deverá apresentar expansão dos preços num ritmo igual ou maior ao do quantum”, avalia.

Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, muito dificilmente será possível ver preços de commodities tão exuberantes como os registrados até agora. Na sua avaliação, essas cotações têm sofrido desaceleração por conta da debandada de fundos de hedge – que estavam bastante posicionados em commodities. Além disso, explica, os condicionantes para um desaquecimento da economia mundial estão postos: a forte rodada de aumentos de juros, principalmente na Europa, Japão e EUA, será fundamental para diminuir o ritmo de expansão desses países. Além disso, diz, a China claramente tem um desejo expresso nas políticas recomendadas de desaceleração do excesso de investimentos dos últimos anos. “Com maior desaquecimento do mundo, o preço das commodities arrefece”, projeta.

No contraponto, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues vê uma clara tendência de aumento dos preços das commodities agrícolas para os próximos três anos. Para ele, o nível dessas cotações reflete, em especial, a redução dos estoques mundiais de trigo e milho. Ingo Plöger, presidente da IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional concorda e acrescenta à lista de Rodrigues soja e açúcar.

Há apostas na continuidade da tendência de alta dos preços em todas as classes de produtos exportados, como a de Ribeiro, embora considere que os semi-manufaturados continuarão sendo destaque no ano que vem, enquanto os preços de manufaturados tendem a desacelerar. “O aumento do quantum exportado de manufaturados também não apresenta uma trajetória muito favorável e após crescer 4% em 2006 deverá manter taxas baixas de crescimento em 2007, ainda puxado pela Aladi”, afirma.

De acordo com Castro, as exportações são a grande dúvida para 2007. “O Brasil depende mais do mundo do que de si mesmo para definir o desempenho das exportações, já que 65% das vendas são de commodities e, portanto, fogem do controle tanto em relação a preços como a quantidades”, afirma Castro, completando que tudo depende do crescimento de países como a China e Estados Unidos, que podem importar menos e provocar redução dos preços internacionais e afetar diretamente as exportações do Brasil.

Manufaturados

Para Castro, o cenário é pouco favorável ao crescimento das exportações de manufaturados do Brasil. “Devem aumentar as vendas de álcool etílico, suco de laranja, óleo combustível e gasolina, itens contabilizados como manufaturados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), mas as exportações de manufaturados puros, na melhor das hipóteses, deve manter o desempenho de 2006.”

A tendência de queda nas vendas (quantum) de manufaturados para os Estados Unidos, segundo Sérgio Vale, continuará pela concorrência que vem perdendo para os chineses. “As vendas para a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) aumentam, mas, mesmo assim, não são suficientes para compensar a perda”, diz Vale, que nota aumento de embarques para países do Oriente Médio e da África. “Mas são uma gota no oceano.”

O embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, considera que o mercado dos Estados Unidos está obstruído para exportações brasileiras de maior competitividade (suco de laranja, açúcar, etanol). Mesmo assim, ressalta, o País ainda tem uma presença muito pequena (1,4%) naquele mercado de US$ 1,8 trilhão. Segundo o embaixador, esse market share é o mesmo de dez anos atrás e menor que há 20 anos. “Isso ocorreu em parte pelo protecionismo contra produtos do agronegócio brasileiro que são altamente competitivos, mas também porque no Brasil, antes da estabilização econômica, não havia condições para uma ação exportadora mais constante.”

Abdenur destaca que as vendas para os EUA crescem cerca de 12% ao ano, contra taxas de expansão superiores a 20% das exportações brasileiras. “Elas crescem menos, mas as exportações para os Estados Unidos são compostas em mais de 70% por produtos manufaturados. Em matéria de qualidade, os Estados Unidos só são um mercado menos bom que o mercado latino-americano. Para nossos vizinhos exportamos mais de 90% de manufaturados. Para a União Européia, apenas 40%; e para Ásia, apenas 20%”, afirma o embaixador.

Visão empresarial

Por mais que fatores negativos como preços internacionais em queda e câmbio apreciado interfiram nas vendas, há um elemento a ser considerado: o crescente desejo exportador. Pesquisa da consultoria Quórum Brasil feita com cem empresas brasileiras de grande porte – com mais de mil empregados – de diversos setores mostra que o peso das exportações nos negócios dessas companhias tem aumentado, bem como as perspectivas futuras (Ver tabela acima).

Segundo Cláudio Silveira, sócio-consultor da Quórum, o mercado internacional está bastante receptivo aos produtos brasileiros e, ao mesmo tempo, a economia doméstica não deslancha, com crescimento médio de 2,5%. “Esse PIB não sustenta a política de expansão das empresas, que não esperam mudanças para 2007”.

Silveira afirma que a maior abertura econômica gerou problemas setoriais, mas, ao mesmo tempo, muitos empresários não se prepararam para o que vinha acontecendo no mundo há algum tempo. “Quem abriu os olhos a tempo está se dando bem.”