A queda forte do preço do petróleo zerou a defasagem entre os preços da gasolina e do diesel praticados no Brasil e no exterior. A notícia é um alívio para a situação financeira da Petrobras e o governo já cogita não reajustar os combustíveis este ano.
“Não faz o menor sentido, num cenário como o atual, aumentar não só a gasolina como o diesel”, disse um assessor do governo à Folha. Ele pondera, no entanto, que a decisão final será tomada após as eleições pela presidente Dilma.
O barril de petróleo tipo Brent caiu 4,3% ontem para US$ 85,04 em Londres, o menor patamar em quatro anos. Desde o fim de 2013, a queda já chega a 23,5%, derrubando também as cotações dos produtos derivados.
A defasagem entre os preços dos combustíveis no Brasil e no golfo do México, que chegou a 20% em fevereiro, desapareceu. Cálculo do Itaú BBA aponta que a gasolina está hoje 5% mais cara que no exterior e o diesel 1%.
Esses porcentuais não levam em consideração o frete, que onera o combustível importado em cerca de 10%. Se incluído esse custo, a defasagem na gasolina ainda estaria próxima de 7%.
Sem reajustes
“No cenário atual, não há razão para reajuste dos combustíveis”, disse Paula Kowarsky, analista do Itaú BBA. “Um reajuste seria malvisto, porque vai elevar a inflação à toa”, disse Fábio Silveira,economista da GO Associados.
Segundo assessores da presidente Dilma, a queda do preço do petróleo é uma notícia positiva para o governo diante do risco de a inflação estourar o teto da meta.
A Petrobras vinha sofrendo muito com essa diferença de preços local e externo, porque o governo optou por segurar repasses para não pressionar a inflação.
Até agora, a estatal era obrigada a importar combustível caro e vender com prejuízo. Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), a Petrobras perdeu R$ 2,7 bilhões com essas operações desde novembro de 2013, quando ocorreu o último reajuste da gasolina.
Segundo analistas, a forte queda do preço do petróleo é consequência da maior produção do produto nos Estados Unidos e da menor expansão da demanda global desde 2009.
A Opep, que reúne os países produtores de petróleo, resiste em cortar a produção, apesar dos pedidos da Venezuela. A Arábia Saudita e outros países creem que a queda dos preços é passageira.
Além disso, os investidores estão se antecipando ao aumento de juros nos EUA e saindo das commodities.
Minério de ferro
Os preços do minério de ferro também recuaram. A tonelada saiu de US$ 120 no início do ano para US$ 80.
Segundo José Carlos Martins, diretor-executivo de ferrosos da Vale, houve um forte aumento de produção dos concorrentes na Austrália.
Ele diz que as cotações devem se recuperar, mas não voltarão ao patamar anterior. É uma má notícia para a balança comercial.
“A única saída para o Brasil não perder divisas é desengavetar projetos, que estão travados por restrições ambientais”, diz Martins.
(Fonte: Folha de S. Paulo)